sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

Retrospectiva 2010


O Blog Maria Sedes Sapientiae iniciou na primeira semana de Janeiro de 2010. Trazendo a primeira postagem "Sabedoria" em honra a Virgen Santissíma que nos trouxe o verbo encarnado. A postagem apresentou os tipos de sabedoria que podemos encontrar como: Sabedoria secular, Sabedoria humana voltada para Deus e Sabedoria divina.
No decorrer do ano podemos ver 58 (Cinquenta e oito) questões da Suma Teologica de Santo Tomas de Aquino que nos enriqueceu da doutrina de Cristo.
Postamos o livro completo "O cuidado devido aos mortos" de Santo Agostinho de Hipona e o "Tratado da Castidade" de Santo Afonso Maria de Ligório, começamos relatando as História de todos os papas, mas, por motivo de tempo ainda não pode ser terminado ficando para o próximo ano. Foi iniciado o tempo liturgico do Rito São Pio V com vídeos contendo partituras com o canto gregoriano para que o interessados possam aprender e se possível formarem coral para animar nas Missas Tridentina.
Tivemos também a participação do padre Angelo Fornari ao enviar-nos uma mensagem para o Blog.
O objetivo primeiro do Apóstolado era trazer as obras Católicas que poucos tem acesso, mas, no desenvolver do tempo vimos que tinhamos necessidade de não só conhecer as obras e a Hístoria como também a rica Liturgia da Santa Igreja e o canto gregoriano.

Tivemos também a graça de um novo membro para o apostólado que ficará responsável pela parte de liturgia, permitindo assim que o Ivan possa dar continuidade nas obras católicas que precisam ser digitadas e formatadas para o Blog.

Tivemos nesse ano registrado pelo blog ao todo 646 visitas computadas, sendo:

  • 443 visitas do Brasil
  • 139 Estados Unidos
  • 31 Canadá
  • 7 França
  • 7 Suécia
  • 6 Alemanha
  • 4 Croácia
  • 4 Portugal
  • 3 Suíça
  • 2 China

Os meses mais visitados foram Julho e Dezembro.
Contando com esta postagem chegamos ao 100 no total.
Este ano se encerra com 9 seguidores do Blog incluindo um padre.

Tivemos a graça de participarmos durante o ano da Sta. Missa no rito extraordinário com padre Angelo Fornari na Paróquia N.S. do Bom Fim, visitamos a capela de Santa Luzia e assitimos a Missa Tridentina, visitamos também a Cripta da Catedral da Sé e o Mosteiro de São Bento.
Participei do Congresso na Montfort. XIII jornada de Estudos. Direita: A Gnose Disfarçada de Catolicismo, nos dias 13, 14 e 15 de agosto.
Foi um ano de muitas bênçãos, na qual, Deus nos propiciou muitos conhecimentos.

Eventos que participamos

Visita à Catedral da Sé


Entrada da Cripta


Após a entrada


Altar Mor


Lugares que contem os corpos dos bispos


Único padre enterrado na cripta


Local onde fica o corpo do índio Tibiriça
Primeiro índio convertido


Local onde fica velado os corpos dos bispos

Vista da escada por baixo


Capela Santa Luzia: Em construção

Mosteiro de São Bento: Em construção

Evento da Montfort: Em construção

Outros eventos: Em construção

Objetivos do Blog para 2011:

  1. Dar continuidade nas obras de Sto. Tomás de Aquino (Summa Theologica).
  2. Concluír os vídeos com as partituras e o canto gregoriano, conforme o ano Liturgico da Missa Tridentina.
  3. Postar outros livros da Tradição Católica.
  4. Propagar mais a Missa extraordinária com vídeos e endereços de lugares que estão rezando.
  5. Levantar algumas questões para os leitores participarem.

FELIZ 2011

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Novo membro do Apóstolado

Novo membro do Apóstolado



Emerson
Acólito e Vocacionado da Diocese de Osasco.
Ficará responsável pela parte de Liturgia no Blog.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Mensagem do Padre Angelo Fornari

Mensagem do Padre Angelo Fornari



Convidado a deixar uma mensagem para os amigos que seguem este blog, o faço com muita satisfação.
Saúdo todos os que acompanham com simpatia a Missa tradicional, em latim, e o canto gregoriano, que da mesma dá a melhor interpretação.
Não que a liturgia renovada seja menos preciosa. Tem. Na verdade, aspectos notáveis de riqueza, de transparência e de capacidade evangelizadora. Aspectos que na igreja Latina a tornam “normal” e preferencial.
Frente, porém, do risco, sempre presente, de “traduzir” os ritos a medida dos nossos gostos e das nossas ambições, de “interpretá-los simplesmente para atrair o nosso povo, o rito latim nos ajuda a entender que a Missa não é nossa, è da Igreja. Não é uma celebração festiva qualquer, mas a celebração do “mistério”, da páscoa do Senhor. Entendendo melhor a língua não é que sempre sejamos ajudados a colocar-nos diante do grande dom e mistério da santa Missa com mais fé e devoção.
Entendo, por isso, e admiro os irmãos, que com adequada preparação participam ativamente do rito antigo e se sentem ajudados por esta forma de celebração.
Importante que, ao redor da mesma Mesa do Senhor, vivamos nossa comunhão profunda com o Cordeiro imolado e nossa fraternidade na única Igreja de Cristo.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Missa Transmitida ao vivo no Rito Extraordinário

Missa Transmitida ao vivo
Rito Extraordinário
25 de Dezembro - Natal


Watch live video from missatridentina on Justin.tv

Missa de Natal em Osasco

Missa de Natal

Forma Extraordinaria do Rito Romano


Desde o surgimento da Motu Proprio Summorum Pontificum está sendo rezada a Missa no Rito São Pio V pelo padre Angelo, todos os domingos as 11 horas na paróquia de Nosso Senhor do BomFim na Rua André Rovai nº332 - Osasco - São Paulo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Questão LVIII: Do modo do conhecimento angélico

QUESTÃO LVIII: DO MODO DO CONHECIMENTO ANGÉLICO


Em seguida, devemos tratar do modo do conhecimento angélico. E sobre este ponto, sete artigos se discutem:
  1. Art. 1 — Se o intelecto angélico às vezes está em potência.
  2. Art. 2 — Se o anjo pode inteligir simultaneamente muitas coisas.
  3. Art. 3 — Se o anjo conhece discorrendo.
  4. Art. 4 — Se os anjos inteligem compondo e dividindo.
  5. Art. 5 — Se no intelecto do anjo pode haver falsidade.
  6. Art. 6 — Se nos anjos há conhecimento verspertino e matutino.
  7. Art. 7 — Se o conhecimento vespertino é o mesmo que o matutino.

Art. 1 — Se o intelecto angélico às vezes está em potência

(Ia IIae, q. 50, a. 6; II Cont. Gent., cap. XCVII, XCVIII, CI; De Malo, q. 16, a. 56)

O primeiro discute-se assim. – Parece que o intelecto angélico às vezes está em potência.

1. — Pois o movimento é o ato do existente em potência, como diz Aristóteles. Ora, as mentes angélicas, inteligindo, movem-se, como diz Dionísio. Logo, às vezes, estão em potência.

2. Demais. — Como o desejo busca o que não se tem mas que se pode ter, quem deseja inteligir alguma coisa está em potência em relação a ela. Mas a Escritura diz (1 Pd 1, 12): Ao qual os mesmos anjos desejam ver. Logo, a inteligência angélica, às vezes, está em potência.

3. Demais. — No livro Das causas se diz que a inteligência intelige ao modo da sua substância. Mas a substância angélica tem, de mistura, algo de potencial. Logo, às vezes, intelige em potência.

Mas, em contrário, diz Agostinho que os anjos, desde que foram criados, gozam, por uma santa e pia contemplação, da eternidade mesma do Verbo. Ora, o intelecto que contempla não está em potência, mas em ato. Logo, o intelecto angélico não é potencial.

SOLUÇÃO. — Como diz o Filósofo, de dois modos pode o intelecto estar em potência. Um é o estado em que se encontra antes de aprender ou descobrir, i. é., antes de ter o hábito da ciência. Outro é o em que já tem a ciência, mas sem a atualizar. — Ora, do primeiro modo, o intelecto angélico nunca está em potência em relação às coisas que o seu conhecimento natural pode alcançar. Pois, assim como os corpos superiores, i. é, os celestes não têm, quanto à existência, uma potência que não seja completada pelo ato, assim as inteligências celestes, i. é, angélicas, não têm nenhuma potência inteligível que não seja totalmente completada pelas espécies inteligíveis conaturais. Mas, quanto ao que lhes for divinamente revelado, nada impede que lhes seja potencial o intelecto; pois, assim, também os corpos celestes estão, às vezes, em potência a serem iluminados pelo sol.

Do segundo modo, porém, o intelecto angélico pode estar em potência em relação às coisas que conhece por conhecimento natural; pois, nem todas as que assim conhece sempre atualmente as considera. Todavia, o conhecimento que tem do Verbo e das coisas vistas neste, nunca é potencial, pois o Verbo é contemplado sempre e atualmente, bem como as coisas nele vistas. Pois esta visão é a beatitude dos anjos; e a beatitude não consiste num hábito, mas num ato, como diz o Filósofo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O movimento, na expressão citada, não se entende como o ato do imperfeito, i. é, do que existe em potência, mas como o ato do perfeito, i. é, do que existe em ato. E assim, o inteligir e o sentir se chamam movimentos, como diz Aristóteles.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Esse desejo dos anjos não exclui a coisa desejada mas o tédio que dela pudessem ter. — Ou se diz, que desejam a visão de Deus, em respeito a novas revelações que dele recebem, conforme o oportuno às suas atividades.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Na substância do anjo não há nenhuma potência desprovida do ato. E semelhantemente, nem o intelecto angélico está em potência de modo a ficar desprovido do ato.

Art. 2 — Se o anjo pode inteligir simultaneamente muitas coisas

(II Sent., dist. III, part. II, q. 2, a. 4; II Cont. Gent., cap. CI; De Verit., q. 8, a. 14)

O segundo discute-se assim. — Parece que o anjo não pode inteligir simultaneamente muitas coisas.

1. — Pois o Filósofo diz que se podem saber muitas coisas, mas inteligir só o que é uno.

2. Demais. — Nada é inteligido senão porque o intelecto é informado pela espécie inteligível, assim como o corpo o é pela figura. Ora, um mesmo corpo não pode ser informado por diversas figuras. Logo, um mesmo intelecto não pode inteligir simultaneamente diversos inteligíveis.

3. Demais. — Inteligir é um movimento. Ora, nenhum movimento termina em termos diversos. Logo, não pode o intelecto inteligir simultaneamente muitas coisas.

Mas, em contrário, diz Agostinho: a potência espiritual da mente angélica fácil e simultaneamente comprende tudo o que quiser.

SOLUÇÃO. — Assim como a unidade do movimento supõe a do seu termo, assim a unidade da operação supõe a do seu objeto. Ora, certas coisas, como as partes de um contínuo, podem ser consideradas como só uma ou como várias. Assim, considerando cada parte de si, são muitas e, por isso, não são apreendidas pelo sentido e pelo intelecto por uma só operação e simultaneamente. De outro modo, as partes podem ser consideradas como formando uma unidade no todo e, então, são conhecidas simultaneamente por uma só operação, tanto pelo sentido como pelo intelecto, por ser considerado o contínuo, na sua totalidade, como diz Aristóteles. E, assim, também o nosso intelecto intelige simultaneamente o sujeito e o predicado como partes de uma mesma proposição e como duas coisas comparadas mas que convém na mesma comparação. Por onde se vê que muitas coisas, enquanto distintas, não podem ser simultaneamente inteligidas; mas o podem enquanto unificadas num mesmo inteligível.

Ora, uma coisa é inteligível em ato quando a sua similitude está no intelecto. Portanto, todas as coisas que podem ser conhecidas por uma mesma espécie inteligível são conhecidas como um só inteligível e, logo, simultaneamente. As que, porém, são conhecidas por diversas espécies inteligíveis são apreendidas como diversos inteligíveis. Assim, pois, os anjos, quando conhecem as coisas pelo Verbo, as conhecem a todas por uma só espécie inteligível, que é a essência divina. E, portanto, por tal conhecimento conhecem a todas simultaneamente; assim como também na pátria os nossos pensamentos não serão volúveis, indo e vindo constantemente de umas para outras coisas, mas veremos toda a nossa ciência por um e simultâneo conspecto, como diz Agostinho. Porém, pelo conhecimento pelo qual os anjos conhecem por espécies inatas, podem inteligir por esse simultaneamente tudo o que conhecem, por uma mesma espécie; não assim o que conhecerem por espécies diversas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Inteligir muitas coisas como se fossem uma só é, de certo modo, inteligir uma só.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O intelecto é informado pela espécie inteligível que trás em si. E por isso pode, por uma só, intuir simultaneamente muitos inteligíveis, do mesmo modo que um corpo, por uma só figura, pode simultaneamente assimilar-se a muitos corpos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Deve-se dar a mesma resposta que à primeira.

Art. 3 — Se o anjo conhece discorrendo

(Infra, q. 79, ad. 8; q. 85, a. 5; De Verit., q. 8, a. 15; q. 15, a. 1)

O terceiro discute-se assim. — Parece que o anjo conhece discorrendo.

1. — Pois, o discurso do intelecto consiste em conhecer uma coisa por meio de outra. Ora, os anjos conhecem assim quando, pelo Verbo, conhecem as criaturas. Logo, o intelecto angélico conhece discorrendo.

2. Demais. — Tudo o que pode a virtude inferior pode a superior. Ora, o intelecto humano pode silogizar e conhecer as causas pelos efeitos, e nisso consiste o discurso. Logo, o intelecto angélico, superior na ordem da natureza, também o pode, com maior razão.

3. Demais. — Isidoro diz que os demônios conhecem muitas coisas por experiência. Ora, o conhecimento experimental é discursivo; pois, como diz Aristóteles, de muitas coisas memoradas resulta uma experiência e, de muitas experiências, resulta um universal. Logo, o conhecimento dos anjos é discursivo.

Mas, em contrário, diz Dionísio que os anjos não congregam o conhecimento divino por meio de difusos raciocínios, nem chegam simultaneamente a esses conhecimentos especiais por algum meio comum.

SOLUÇÃO. — Como já se disse muitas vezes, os anjos têm, entre as substâncias espirituais o grau que têm os corpos celestes entre as corpóreas; por isso, Dionísio lhes chama inteligências celestes. Ora, a diferença entre os corpos celestes e os terrenos está nestes alcançarem a sua última perfeição pela mudança e pelo movimento; ao passo que aqueles logo, pela própria natureza, a atingem. Assim, também os intelectos inferiores, i. é, dos homens, por um certo movimento e discurso da operação intelectual, atingem a perfeição e o conhecimento da verdade, passando de um objeto conhecido para outro. Se, porém, imediatamente, pelo próprio conhecimento do princípio, tivessem como conhecidas todas as conclusões consequentes, não haveria neles lugar para o discurso. Ora, é isto o que se dá com os anjos, pois, imediatamente, vêem tudo o que podem conhecer nas coisas que primeiro naturalmente conhecem.

E por isso se chamam eles intelectuais, pois, também em nós se dizem inteligidas as coisas imediata e naturalmente apreendidas; sendo essa a razão por que se chama intelecto ao hábito dos primeiros princípios. Porém, as almas humanas que chegam ao conhecimento da verdade por um certo discurso se chamam racionais; e isso nelas se dá pela debilidade da sua luz intelectual. Se, pois, tivessem a plenitude dessa luz, como os anjos, imediatamente, no primeiro aspecto dos princípios, apreender-lhe-iam todo o conteúdo, vendo tudo o que dele se pudesse deduzir.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O discurso designa um certo movimento. Ora, todo movimento passa de uma posição anterior para outra posterior. Daí o considerar-se como conhecimento discursivo o passar de um primeiro objeto conhecido para outro, que era, antes, ignorado. Se, porém, conhecido um, o outro o fosse simultaneamente, como no espelho é vista simultaneamente a imagem da coisa, então tal conhecimento não seria discursivo. Ora, é assim que os anjos conhecem as coisas no Verbo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os anjos podendo silogizar, como conhecedores do silogismo, vêem nas causas os efeitos e nos efeitos as causas; não, porém, que adquiram o conhecimento da verdade desconhecida silogizando das causas para os causados e destes para aquelas.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Admite-se experiência nos anjos e nos demônios por certa similitude, enquanto conhecem os sensíveis presentes, sem, todavia, nenhum discurso.

Art. 4 — Se os anjos inteligem compondo e dividindo

(Infra, q. 85, a. 5; De Malo, q. 16, a. 6 ad 19)

O quarto discute-se assim. — Parece que os anjos inteligem compondo e dividindo.

1. — Onde há, pois, multidão de coisas inteligidas há composição dos intelectos, como diz Aristóteles. Ora, no intelecto angélico há tal multidão, porque intelige diversas coisas por diversas espécies, e não todas simultaneamente. Logo, há nele composição e divisão.

2. Demais. — Mais dista a afirmação da negação do que duas naturezas opostas quaisquer, porque a distinção primeira se faz pela afirmação e negação. Ora, como se viu, o anjo não conhece quaisquer naturezas distantes por uma, mas por várias espécies. Logo é necessário conheça, por diversas espécies, a afirmação e a negação. Donde resulta que o anjo intelige compondo e dividindo.

3. Demais. — A linguagem é sinal de inteligência. Ora, os anjos, falando com os homens, proferem enunciados afirmativos e negativos, que são sinais de composição e divisão no intelecto, como se vê em muitos lugares da Sagrada Escritura. Logo, resulta que o anjo intelige compondo e dividindo.

Mas, em contrário, diz Dionísio que a virtude intelectual dos anjos resplandece pela perspícua e simples visão da mente divina. Ora, a inteligência simples não tem composição nem divisão, como diz Aristóteles. Logo, o anjo intelige sem composição nem divisão.

SOLUÇÃO. — Assim como no intelecto que raciocina a conclusão se liga ao princípio; assim, no que compõe e divide, o predicado se liga ao sujeito. Se, pois, o nosso intelecto visse, imediatamente, no próprio princípio, a verdade da conclusão, nunca inteligiria discorrendo ou raciocinando. Semelhantemente, se o nosso intelecto tivesse conhecimento imediato, pela apreensão da quididade do sujeito, de tudo o que lhe pode ser atribuído ou deste removido, nunca inteligiria compondo e dividindo, mas somente inteligindo a quididade. Por onde é claro que da mesma causa provém o inteligir do intelecto que discorre e do que compõe e divide; e essa está em que o intelecto não pode ver imediatamente, na primeira apreensão de qualquer coisa, primariamente apreendida, tudo o que nesta, pela sua virtude, está contido; o que se dá pela debilidade da nossa luz intelectual, como já se disse.

Ora, tendo o anjo luz intelectual perfeita, por ser espelho puro e claríssimo, como diz Dionísio, resulta que ele, que não intelige raciocinando, também não intelige compondo e dividindo. Contudo, intelige a composição e a divisão dos enunciados, como também o raciocínio dos silogismos; pois, intelige as coisas compostas simplesmente, as móveis, imovelmente, e as materiais, imaterialmente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Não é qualquer pluralidade de objetos inteligidos que causa a composição; mas a daqueles nos quais um é atribuído a outro ou deste removido. Ora, o anjo, inteligindo a quididade de uma coisa, simultaneamente intelige tudo o que lhe pode ser atribuído ou dela removido. E assim, inteligindo a quididade intelige, pelo seu uno e simples intelecto, tudo o que nós só podemos inteligir compondo e dividindo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — As diversas quididades das coisas diferem menos entre si quanto à razão de existir, do que a afirmação e a negação. Todavia, quanto à razão do conhecimento, a afirmação e negação mais convém entre si, porque, conhecendo-se a verdade da afirmação, imediatamente se conhece a falsidade da negação oposta.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O exprimirem os anjos enunciados afirmativos e negativos manifesta que eles conhecem a composição e a divisão; não, porém, que conheçam compondo e dividindo, mas conhecendo simplesmente a quididade.

Art. 5 — Se no intelecto do anjo pode haver falsidade

(III Cont. Gent., cap. CVIII; De Malo, q. 16, a. 6)

O quinto discute-se assim. — Parece que no intelecto do anjo pode haver falsidade.

1. — Pois, a protérvia implica a falsidade. Ora, nos demônios há a fantasia proterva, como diz Dionísio.

2. Demais. — A ignorância é causa de falsa apreciação. Ora, nos anjos pode haver ignorância, como diz Dionísio. Logo, resulta que neles pode haver falsidade.

3. Demais. — Quem quer que decaia da verdade da sabedoria e tenha razão depravada tem falsidade ou erro no seu intelecto. Ora, Dionísio o afirma dos demônios. Logo, resulta que no intelecto dos anjos pode haver falsidade.

Mas, em contrário, diz o Filósofo que o intelecto é sempre verdadeiro. E também Agostinho: só o verdadeiro é inteligido. Ora, os anjos nada conhecem senão inteligindo. Logo, no conhecimento angélico não pode haver engano e falsidade.

SOLUÇÃO. — A verdade sobre este assunto depende, de certo modo, do que já antes se disse. Pois, já ficou dito que o anjo não intelige compondo e dividindo, mas inteligindo a quididade. Ora, o intelecto que atinge a quididade é sempre verdadeiro; assim como o sentido o é, quanto ao seu objeto próprio, como diz Aristóteles. Em nós, porém, há, por acidente, engano e falsidade no inteligir a quididade, e isso em razão de alguma composição; quer tomemos a definição de uma coisa pela de outra coisa; quer as partes da definição não sejam entre si coerentes, como se, p. ex., tomássemos por definição, que certo ser é um animal quadrúpede volátil, sem que nenhum animal o seja. E isto se dá com os seres compostos, cuja definição consta de elementos diversos, nos quais um é matéria do outro. Mas na intelecção das quididades simples não há falsidade, como diz Aristóteles; porque ou elas, na sua totalidade, não são atingidas e nós nada conhecemos, ou se conhecem como são.

Assim, pois, falsidade, erro ou engano por si, não pode haver no intelecto de nenhum anjo; mas o pode por acidente, embora de modo diferente do pelo qual existe em nós. Pois, nós, por vezes, chegamos à intelecção da quididade compondo e dividindo; assim quando, dividindo, ou demonstrando, investigamos uma definição. Ora, tal não se dá com os anjos que, pela quididade, conhecem todos os enunciados relativos a uma determinada coisa. É, porém, claro que a quididade da coisa pode ser um princípio de conhecimento em relação àquilo que naturalmente lhes convém ou dela se remove; não, porém, em relação ao que depende da ordenação sobrenatural de Deus. Portanto, os anjos bons, tendo a vontade reta, não julgam pelo conhecimento da quididade da coisa, daquilo que a esta pertence sobrenaturalmente, a não ser por ordenação divina. E, por isso, nesses anjos não pode haver falsidade ou erro.

Os demônios, porém, com vontade perversa, desviando da divina sabedoria o intelecto, julgam das coisas, por vezes, absolutamente, segundo a condição natural. E não se enganam quanto ao que naturalmente pertence à coisa. Mas podem enganar-se quanto ao sobrenatural; como se, considerando um homem morto, julgassem que não haveria de ressurgir; e se, vendo Cristo homem, não o julgassem Deus.

E daqui se deduz clara a RESPOSTA ÀS OBJEÇÕES feitas de um e outro lado. — Pois, a protérvia dos demônios vem de não se submeterem à divina sabedoria. — A ignorância, por outro lado, existe nos anjos não em relação aos cognoscíveis naturais, mas aos sobrenaturais. Também é claro que o seu intelecto da quididade é sempre verdadeiro, salvo acidentalmente, enquanto, indevidamente, se ordena a alguma composição ou divisão.

Art. 6 — Se nos anjos há conhecimento verspertino e matutino

(Infra q. 62, a. 1, ad 3; q. 64, a. 1, ad 3; II Sent., dist. XII, a. 3; De Verit., q. 8, a. 16; De Pot., q. 4, a. 2, respons. Ad object; Ephes., cap. III, lect. III)

O sexto discute-se assim. — Parece que nos anjos não há conhecimento vespertino nem matutino.

1. — Pois, a tarde e a manhã vão de mistura com as trevas. Ora, no conhecimento do anjo nenhuma treva há, porque não há nele erro nem falsidade. Logo, esse conhecimento não pode ser chamado matutino nem vespertino.

2. Demais. — Entre a tarde e a manhã está a noite e, entre a manhã e a tarde está o meio dia. Se, portanto, há nos anjos conhecimento matutino e vespertino, deve neles haver, pela mesma razão, conhecimento meridiano e noturno.

3. Demais. — A ciência se distingue pela diferença dos objetos conhecidos, e, por isso, diz o Filósofo que as ciência se dividem segundo os seus objetos. Ora, é tríplice a existência delas, a saber: no Verbo, em a natureza própria e em a natureza angélica, como diz Agostinho. Logo, se se admitir o conhecimento matutino e vespertino nos anjos, em virtude da existência das coisas no Verbo e em a natureza própria, também se deverá admitir neles o terceiro conhecimento, por causa da existência das coisas na inteligência angélica.

Mas, em contrário, Agostinho distingue, nos anjos, os conhecimentos matutino e vespertino.

SOLUÇÃO. — Essa concepção dos conhecimentos matutino e vespertino nos anjos foi introduzida por Agostinho, que quer entender os seis dias, nos quais se lê que Deus fez todas as coisas, de maneira a não significarem os nossos dias comuns percorridos pelo circuito do sol, pois se lê que o sol foi feito no quarto dia; mas um só dia, a saber, o conhecimento angélico representado nos seis gêneros de coisas. Pois, assim como o nosso dia habitual tem a manhã por princípio e a tarde por fim, assim o conhecimento da existência mesma primordial das coisas se chama matutino e se refere à existência das coisas no Verbo. Porém, se chamam conhecimento vespertino ao da existência mesma da coisa criada, considerada esta na sua própria natureza. Pois, a existência das coisas começou no Verbo como num princípio primordial, tendo esse efluxo o seu termo na existência que as coisas têm na própria natureza.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Tarde e manhã não se entendem, no conhecimento angélico, relativamente à mistura com as trevas, mas a um princípio e um termo. — Ou se deve responder que nada impede, como diz Agostinho, seja uma coisa, em comparação com outra, chamada luz e, com outra, treva. Assim como a vida dos fiéis e dos justos, em comparação com a dos ímpios, é chamada luz, segundo a Escritura (Ef 5, 8): Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Contudo, essa mesma vida, comparada com a da glória, é chamada tenebrosa pela Escritura (2 Pd 1, 19): Temos ainda a palavra dos profetas, à qual fazeis bem de atender, como a uma tocha que ilumina a um lugar tenebroso. Assim, pois, o conhecimento, pelo qual o anjo conhece as coisas segundo a natureza própria delas, é dia, comparado com a ignorância ou o erro; mas é obscuro, comparado com a visão do Verbo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O conhecimento matutino e vespertino se refere ao mesmo ser, i. é, aos anjos iluminados, distintos das trevas, i. é, dos maus anjos. Porém, os bons anjos, conhecendo a criatura, não se lhe prendem, o que seria o entenebrecer-se e fazer-se noite, mas o referem ao louvor de Deus em quem, como no princípio, tudo conhecem. E assim, depois da tarde não vem a noite, mas a manhã, por ser esta o fim do dia precedente e o princípio do seguinte, referindo os anjos o conhecimento da obra precedente ao louvor de Deus. E, quanto ao meio-dia, este se compreende na denominação de dia, como sendo o meio entre dois extremos. — Ou pode o meio dia referir-se ao conhecimento do próprio Deus, sem princípio nem fim.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Também os anjos são criaturas. Por isso a existência das coisas, na inteligência angélica, se compreende no conhecimento vespertino, como o da existência delas na sua natureza própria.

Art. 7 — Se o conhecimento vespertino é o mesmo que o matutino

(De Verit., q. 8, a. 16; De Pot., q. 4, a. 2, ad 10, 19, 22)

O sétimo discute-se assim. — Parece que o conhecimento vespertino é o mesmo que o matutino.

1. — Pois, diz a Escritura (Gn 1, 5): Da tarde e da manhã se fez o dia primeiro. Ora, por dia se entende o conhecimento angélico, como diz Agostinho. Logo, o mesmo é o conhecimento matutino que o vespertino dos anjos.

2. Demais. — É impossível uma potência ter simultaneamente duas operações. Ora, os anjos sempre estão em ato de conhecimento matutino, porque sempre vêem a Deus e as coisas em Deus, conforme a Escritura (Mt 18, 10): Os seus anjos sempre vêem a face de meu Pai, etc. Logo, se o conhecimento vespertino fosse diverso do matutino, de nenhum modo o anjo poderia ter aquele em ato.

3. Demais. — Diz a Escritura (1 Cor 13, 10): Mas quando vier o que é perfeito, abolido será o que é em parte. Ora, se o conhecimento vespertino é diferente do matutino, aquele está para este como o imperfeito para o perfeito. Logo, não poderá o conhecimento vespertino existir simultaneamente com o matutino.

Mas, em contrário, diz Agostinho que muito difere o conhecimento de qualquer coisa no Verbo de Deus e na sua própria natureza; de modo que o primeiro conhecimento merecidamente pertence ao dia e o segundo, à tarde.

SOLUÇÃO. — Como se disse, pelo conhecimento vespertino os anjos conhecem as coisas em a natureza própria delas. O que se não deve entender no sentido que eles tirem o seu conhecimento quase da natureza própria das coisas, como se a preposição indicasse relação com um princípio; pois, segundo vimos, os anjos não tiram das coisas o seu conhecimento. Resta, portanto, que a expressão natureza própria deve ser compreendida relativamente à natureza do objeto conhecido, enquanto este cai sob o conhecimento; e assim chama-se conhecimento vespertino ao pelo qual os anjos conhecem a existência que as coisas têm em a natureza própria delas. E esta eles a conhecem por duplo modo: pelas espécies inatas e pelas razões das coisas existentes no Verbo. Pois, contemplando o Verbo, não somente conhecem a existência que elas têm nele, mas também a que têm a natureza própria; assim como Deus, contemplando-se a si mesmo, conhece o ser que as coisas têm na própria natureza delas.

Se, portanto, se considerar como vespertino o conhecimento que têm, contemplando o Verbo, da existência das coisas em a natureza própria, então esse conhecimento é um e essencialmente o mesmo que o matutino, deste diferindo só quanto aos objetos conhecidos. Se, porém, se considerar como vespertino o conhecimento que os anjos têm, por formas inatas, da existência das coisas em a natureza próprias delas, então este difere do matutino. E é este o sentido de Agostinho dizendo que é um conhecimento imperfeito por comparação com o outro.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Assim como, no sentir de Agostinho, o número de seis dias é considerado em relação aos seis gêneros de coisas conhecidas dos anjos; assim, a unidade do dia é considerada em relação à do objeto conhecido, que, todavia, pode ser conhecido por diversos conhecimentos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Podem pertencer simultaneamente à mesma potência duas operações, das quais uma se refira à outra; assim, é claro que a vontade quer simultaneamente o fim e os meios; e o intelecto intelige simultaneamente os princípios e, por estes, as conclusões, uma vez a ciência adquirida. Ora, o conhecimento vespertino, nos anjos, referindo-se ao matutino, como diz Agostinho, nada impede que ambos neles existam simultaneamente.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A presença do perfeito exclui o imperfeito, que lhe é oposto; assim a fé, referindo-se ao que se não vê, será excluída pela visão presente. Mas a imperfeição do conhecimento vespertino não se opõe à perfeição do matutino; pois, o ser uma coisa conhecida em si mesma não se opõe a ser conhecida na sua causa. E, do mesmo modo, em nada repugna seja uma coisa conhecida por dois meios, dos quais um é mais perfeito e outro mais imperfeito; assim como, para a mesma conclusão, podemos empregar um meio demonstrativo e um dialético. E semelhantemente, o anjo pode conhecer uma mesma coisa pelo Verbo incarnado e pela espécie inata.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Questão LVII - Do conhecimento angélico em relação às coisas materiais

QUESTÃO LVII — DO CONHECIMENTO ANGÉLICO EM RELAÇÃO ÀS COISAS MATERIAIS


Em seguida se trata das coisas materiais conhecidas dos anjos. E, sobre este assunto, cinco artigos se discutem:
  1. Se os anjos conhecem as naturezas das coisas materiais;
  2. Se conhecem os seres singulares;
  3. Se conhecem as coisas futuras;
  4. Se conhecem as cogitações dos corações;
  5. Se conhecem todos os mistérios da graça.

ART. I — SE OS ANJOS CONHECEM AS COISAS MATERIAIS


(II Cont. Gent., cap. XCIX; De Verit., q. 8, a. 8; q. 10, a. 4)

O primeiro discute-se assim. — Parece que os anjos não conhecem as coisas materiais.

1. — Pois, o objeto inteligido é a perfeição de quem intelige. Ora, as coisas materiais não podem ser a perfeição dos anjos, por lhes serem inferiores. Logo, os anjos não as conhecem.

2. Demais. — A visão intelectual apreende as coisas que estão na alma pela essência delas, como diz a Glosa. Ora, os seres materiais não podem estar na alma do homem ou na inteligência do anjo, pelas essências delas. Logo, não podem ser conhecidos pela visão intelectual, mas só pela imaginaria, que apreende as semelhanças dos corpos, e pela sensível, que apreende os próprios corpos. Como, porém, os anjos não têm visão imaginaria, nem a sensível, mas só a intelectual, não podem conhecer as coisas materiais.

3. Demais. — As coisas materiais não são inteligíveis em ato, mas são cognoscíveis pela apreensão do sentido e da imaginação, que não existem nos anjos. Logo, estes não as conhecem.

Mas, em contrário, o que pode a virtude inferior pode também a superior. Ora, se o intelecto humano, que é, na ordem da natureza, inferior ao angélico, pode conhecer as coisas materiais, como muito maior razão o pode este último.

SOLUÇÃO. — A ordem dos seres e tal, que os superiores são mais perfeitos que os inferiores e, o que estes contém de deficiente, parcial e multiplicente, aqueles contêm eminentemente e por uma certa totalidade e simplicidade. E, portanto, como no sumo vértice das coisas, todas preexistem sobresubstancialmente, em Deus, no seu ser simples, como diz Dionísio. Ora, dentre todas as outras criaturas, os anjos, sendo as mais próximas e semelhantes a Deus, mais e mais perfeitamente participam da bondade divina, como diz Dionísio. Portanto, nos anjos, todas as coisas materiais preexistem, mais simples e imaterialmente do que nelas próprias; porém, mais multíplice e imperfeitamente do que em Deus. Mas, como o ser está noutro ao está ao modo desse outro; e sendo os anjos, por naturezas inteligentes; por isso, como Deus, por essência, conhece as coisas materiais, eles as conhecem pelas possuírem nas espécies inteligíveis delas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O objeto inteligido é a perfeição de quem intelige pela espécie inteligível existente. E, assim, as espécies inteligíveis existentes no intelecto angélico são deste as perfeições e os atos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O sentido apreende as essências das coisas, mas somente os acidentes exteriores. Do mesmo modo a imaginação, que só apreende as semelhanças dos corpos. Só o intelecto apreende as essências das coisas; e por isso, diz Aristóteles, que o objetivo dele é a quididade da coisa, em relação à qual o intelecto não erra, assim como também não erra o sentido em relação ao sensível próprio. Assim, pois, as essências das coisas materiais estão na inteligência do homem ou do anjo, como o inteligido está em quem intelige e não pela existência real delas. Há, porém, certas coisas que estão na inteligência ou na alma, por ambos os modos de ser; e, de ambos, há visão intelectual.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Se o anjo recebesse das próprias coisas materiais o conhecimento que delas tem, necessariam, ente abstraindo-as, as tornaria inteligíveis em ato, ora, não é delas que ele tira o conhecimento; mas as conhece pela espécies inteligíveis, em ato, das coisas que que são conaturais, assim como a nossa inteligência conhece pelas espécies que torna inteligíveis por abstração.

ART. II — SE O ANJO CONHECE O SINGULAR


(Infra., q. 89, a. 4; II Sent., dist. III, part. II, q. 2, a. 3; II Cont. Gent., cap. C; De Verit., q. 8, a. 11; q. 10, a. 5; Qu. De Anima, a. 20; Quodl. VII, a. 1, a. 3; Opusc. XV, De Angelis, cap. XII, XV.)

O segundo discute-se assim. — Parece que o anjo não conhece o singular.

1. — Pois, diz o Filósofo que o sentido conhece o singular porém, a razão (ou o intelecto), o universal. Ora, os anjos têm unicamente o intelecto, como faculdade cognoscitiva, segundo já se viu (q. 54, a. 5). Logo, os anjos não cohecem o singular.

2. Demais. — Todo conhecimento se realiza por certa assimilação do conhecente com o conhecido. Ora, como o anjo é imaterial, conforme se viu (q. 50, a. 2), e a matéria é o princípio da singularidade, não pode haver nenhuma assimilação do anjo com o singular como tal, logo, aquele não pode conhecer este.

3. Demais. — Só por espécies singulares ou por espécies universais é que o anjo poderia conhecer o singular. Ora, não pelas primeiras, porque, então, ele deveria ter infinitas espécies. Nem pelas ultimas, pois, o universal não é princípio suficiente de conhecimento do singular como tal, porque todo universal se conhece o singular só em potência. Logo, o anjo não conhece o singular.

Mas, em contrario. Ninguém pode guardar o que não conhece. Ora, os anjos guardam os homens, conforme a Escritura (Sl 90, 11): Mandou aos seus anjos acerca de ti, que te guardem em todos os teus caminhos. Logo, o anjo não conhece o singular.

SOLUÇÃO. — Alguns negaram totalmente aos anjos o conhecimento do singular. — Mas isto, em primeiro lugar, derroga a fé católica dizendo que as coisas inferiores deste mundo são administradas pelos anjos, como diz a Escritura (Heb 1, 14): Todos os espíritos são administradores. Ora, se não conhecessem o singular nenhuma providência poderiam tomar em respeito do que se faz neste mundo, porque os atos têm por objeto o singular. O que vai contra a Escritura (Ecle 5, 5): Não digas diante do anjo: Não há Providência. E, segundo lugar, derroga o ensinamento da filosofia dizendo que os anjos são os motores dos orbes celestes, pela inteligência e pela vontade.

E, por isso, outros ensinaram que o anjo tem, certamente, conhecimento do singular, mas por causas universais, às quais se reduzem todos os efeitos particulares; como se um astrólogo julgasse certo eclipse futuro pelas disposições dos movimentos celestes. — Mas esta opinião não escapa às dificuldades apontadas, porque conhecer de tal modo o singular não é conhece-lo como tal, isto é, como existente num lugar e momento dados. Assim, o astrólogo, conhecendo o eclipse futuro pelo cômputo dos movimentos celestes, conhece-o universalmente e não como realizado num lugar e momento dados, salvo se o conhecer pelos sentidos. Ora, a administração, a providência e o movimento visam o singular, enquanto relativos de um determinado lugar e tempo.

Portanto deve-se responder diferentemente, que, assim como o homem conhece, por diversas potências cognoscitivas, os gêneros de todas as coisas — pelo intelecto o universal e o imaterial; pelo sentido, o singular e o corpóreo; assim o anjo, por uma só potência intelectiva tem ambos esses conhecimentos. Pois a ordem das coisa postula que, quanto mais for um ser superior, tanto mais íntima tenha a sua potência, que mais coisas abranja. Assim, como no homem mesmo se vê, o sentido comum, superior ao próprio, embora seja uma potência única, conhece tudo o que conhecem os cinco sentidos exteriores, e certas outras coisas, como a diferença entre o branco e o doce, que nenhum dos sentidos exteriores conhece; e o mesmo se dá em outros casos. Donde, sendo o anjo pela ordem natural superior ao homem, inconveniente é dizer-se que o homem, por qualquer das suas potências, conheça alguma coisa, que o anjo, pela sua única potência cognoscitiva, o intelecto, não conheça. Por isso, Aristóteles não admite que uma disputa conhecida de nós Deus a ignore.

Quanto ao modo, porém, pelo qual o intelecto angélico conhece o singular, podemos explica-lo assim. De Deus efluem as criaturas para subsistirem em as suas naturezas próprias, de modo a também serem objeto do conhecimento angélico. Ora, é manifesto que, de Deus, eflui para as coisas não só o pertencente à natureza universal, mas também o que constitui o princípio de individuação; pois, Deus é a causa da substância total da coisa, material e formalmente. E, como causa, do mesmo modo conhece, porque a ciência divina é causa das coisas, como já se demonstrou (q. 14, a. 8). Portanto, assim como Deus, pela sua essência. Pela qual causa todas as coisas não só é de todas a semelhança; mas também conhece a todas, tanto pelas naturezas universais como pela singularidade delas; assim também os anjos, pelas espécies neles infundidas por Deus, conhecem a coisas, não só quanto à natureza universal, mas também quanto à singularidade delas, por serem elas certas representações multiplicadas da única e simples essência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O Filósofo se refere à nossa inteligência, que só por abstração intelige as coisas; e, por essa mesma abstração das condições materiais, o abstraído torna-se universal. Ora, tal modo de inteligir não convém aos anjos, como já se disse (q. 55, a. 2); e, logo, a razão não é a mesma.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os anjos, por natureza, não se assimilam às coisas materiais, como uma coisa assimila a outra por conveniência genérica, especifica ou acidental; mas como o superior se assimila ao inferior; assim, o sol com o fogo. E, por este mesmo modo, Em Deus há a semelhança formal e material de todas as coisas, por preexistir, nele, como na causa, tudo o que se encontra nas coisas. Assim, pela mesma razão, as espécies da inteligência angélica, que são certas semelhanças das coisas, não só formal, mas também materialmente.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os anjos conhecem o singular por formas universais, que, todavia, são semelhanças das coisas, tanto quanto aos princípios universais como aos princípios de individuação. E, como podem conhecer muitas coisas, pela mesma espécie, já antes ficou dito. (q. 55, a. 3, ad 3)

ART. III — SE OS ANJOS CONHECEM O FUTURO


(Infra, q. 86, a. 4; IIa Iiae, q. 95, a. 1; I Sent., dist. XXXVIII, a. 5; II, dist. III, q. 2, a. 3, ad 4; dist. VII, q. 2, a. 2; III Cont. Gent., cap. CLIV; De Verit., q. 8, art. 12; De Malo, q. 16, a. 7; De Spirit Creat., a. 5, ad 7; Qu. De Anima, a. 20, ad 4; Quodl. VII, q. 3, a. 1, ad 1; Compend. Theol., cap. CXXXIV; In Isaiam, cap. III)

O terceiro discute-se assim. — Parece que os anjos conhecem o futuro.

1. — Pois, os anjos são superiores aos homens, pelo conhecimento. Ora, alguns homens conhecem o futuro. Logo, com maior razão, os anjos.

2. Demais. — O presente e o futuro são diferenças de tempo. Ora, o intelecto do anjo está acima do tempo; pois, a inteligência se equipara à eternidade, i. é., ao evo, como diz o livro Das causas. Logo, para o intelecto angélico não difere o pretérito do futuro, os quais ele conhece indiferentemente.

3. Demais. — O anjo não conhece por espécies oriundas das coisas, mas por espécies inatas universais. Ora, estas se referem igualmente ao pretérito, ao presente e ao futuro. Logo, resulta que os anjos indiferentemente os conhecem.

4. Demais. — Diz-se que alguma coisa está distante tanto temporal como localmente. Ora, os anjos conhecem as coisas localmente distantes. Logo, também as distantes no futuro.

Mas, em contrário. O que é próprio só à divindade não convém aos anjos. Ora, é-lhe sinal próprio conhecer o futuro, conforme a Escritura (Is 41, 23): Anunciar as coisas que hão de vir para o futuro, é ficaremos sabendo que vós sois deuses. Logo, os anjos não conhecem o futuro.

SOLUÇÃO. — De dois modos se pode conhecer o futuro. Na sua causa; e, então o futuro, necessariamente oriundo das suas causas, pode ser conhecido pela ciência certa, como, p. ex., que o sol nascerá amanha. Porém, as coisas oriundas na maioria dos casos das suas causas, são conhecidas, não certa mas conjecturalmente; assim, o médico conhece de antemão a saúde do enfermo. Este modo de conhecer o futuro o têm os anjos, e, tanto mais que nós, quanto mais universal e perfeitamente conhecem a causas das coisas; assim como os médicos, que mais agudamente vêm as causas, melhor prognosticam do futuro estado da doença. As coisas, porém, provenientes das suas causas, mas na minoria dos casos, são de todo desconhecidas, como o que é casual e fortuito. Por outro lado, o futuro é conhecido em si mesmo. E, assim, só Deus conhece as coisas futuras, não só as provenientes das suas causas necessariamente, ou na maioria dos casos, como também as casuais e fortuitas, pois Deus vê tudo na sua eternidade.

Pois esta, sendo simples, está presente a todo o tempo e o encerra em si. Por isso, Deus, de um intuito, percorre todas as coisas feitas na totalidade do tempo, como se foram presentes e as vê todas como em si mesmas são, conforme já antes se disse (q. 14, a. 13), quando se tratou da ciência de Deus. Ao passo que o intelecto angélico, como qualquer outro intelecto criado, é deficiente, em comparação com a eternidade divina. Por onde, o futuro, na sua substância, não pode ser conhecido por nenhum intelecto criado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Os homens não conhecem o futuro, senão pelas suas causas, ou pela revelação de Deus. E, deste modo, os anjos conhecem muito mais sutilmente as coisas futuras.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora o intelecto angélico esteja fora do tempo que mede os movimentos corpóreos, há todavia, nesse intelecto, o tempo segundo a sucessão das concepções inteligíveis, pois conforme diz Agostinho, Deus move a criatura espiritual no tempo. E assim, havendo sucessão no intelecto angélico, não lhe são presentes todas as coisas feitas na totalidade do tempo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora, em si mesmas, a espécies existentes no intelecto angélico igualmente se refiram ao presente, ao pretérito e ao futuro, todavia, estes tempos não se referem igualmente às espécies. Pois, as coisa presentes são de natureza a se assimilarem às espécies existentes na mente do anjo e, assim, por estas, podem ser conhecidas. Mas, as coisas futuras ainda não têm tal natureza e, por isso, não podem ser conhecidas por meio de tais espécies.

RESPOSTA À QUARTA. — As distâncias locais já estão em a natureza das coisas e participam de alguma espécie cuja semelhança existe no anjo; por que não é verdade das coisas futuras, como já e disse. Logo, o símile não é o mesmo.

ART. IV — SE OS ANJOS CONHECEM AS COGITAÇÕES DOS CORAÇÕES


(De Verit., q. 8, a. 13; De Malo, a. 16, a. 8; Opusc. X, a. 38; Opusc. XII, a. 36; I Cor., cap. II, lect. II)

O quarto discute-se assim. — Parece que os anjos conhecem as cogitações dos corações.

1. — Pois, Gregório diz, a propósito da passagem da Escritura (Jó 28) — Não se lhe igualará o ouro, ou o cristal – que, então, i. é., na beatitude dos ressurgidos, um será conhecido de outro como a si mesmo; e, como se trata do intelecto de cada um, a consciência é simultaneamente penetrada. Ora, os ressurgidos serão semelhantes aos anjos, como diz a Escritura (Mt 22, 30). Logo, um anjo pode ver o que está na consciência do outro.

2. Demais. — As figuras estão para os corpos como as espécies inteligíveis para o intelecto. Ora, o corpo, vista lhe fica a figura. Logo, vista a substância intelectual, vista foca a espécie inteligível que nela está. Portanto, como um anjo vê outro, e mesmo a alma, resulta que pode lhes conhecer o pensamento.

3. Demais. — As coisas que estão em o nosso intelecto são mais semelhantes ao anjo, que as existentes na fantasia; pois aquelas são inteligidas em ato, estas, porém, só em potência., ora, as existentes na fantasia podem ser conhecidas pelo anjo, como seres corporais, pois, a fantasia é uma virtude do corpo. Logo, resulta que o anjo pode conhecer as cogitações do intelecto. Mas, em contrário, o que é próprio de Deus não convém aos anjos. Ora, é próprio de Deus conhecer as cogitações dos corações, segundo a Escritura (Jr 17): Depravado é o coração do homem, e impenetrável: quem o conhecerá? Eu sou o Senhor que esquadrinha os corações. Logo, os anjos não conhecem os segredos dos corações.

SOLUÇÃO. — A cogitação do coração pode ser conhecida de duplo modo. — De um modo, pelo seu efeito. E assim pode ser conhecida, não só pelo anjo, mas também pelo homem; e tanto mais sutilmente quanto tal efeito for mais oculto. Pois, às vezes, uma cogitação é conhecida, não só pelo ato exterior, mas também pela imutação do vulto; assim como também os médicos podem conhecer certos afetos da alma, pelo pulso. E tanto mais os anjos, ou os demônios, quanto mais sutilmente compreendem tais imutações corporais ocultas. Por isso Agostinho diz que, por vezes, compreendem muito facilmente as disposições humanas, não só as exteriorizadas pela voz, mas ainda as concebidas no pensamento, por serem sinais expressos no corpo pela alma; embora também diga não se possa afirmar como isso se realiza. De outro modo, as cogitações podem ser conhecidas, enquanto existentes no intelecto, e os afetos, enquanto na vontade. E, assim, só Deus pode conhecer as cogitações dos corações e os afetos das vontades.

Sendo a razão disto que a vontade da criatura racional só de Deus depende e só ele pode agir sobre ela, da qual é o objeto principal e o último fim; o que a seguir se demonstrará (q. 105, a. 4; Ia IIae, q. 9, a. 6). Portanto, as coisas existentes na vontade ou que só dela dependem apenas de Deus são conhecidas. Ora, é manifesto que só da vontade depende que alguém considere alguma coisa atualmente; pois, quem tem o hábito da ciência, ou espécies inteligíveis em si existentes, deles usa quando quiser. E por isso, diz a Escritura (1 Cor 2, 11): Ninguém conhece as coisas que são do homem, senão o espírito do homem, que nele mesmo reside.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA PERGUNTA. — Atualmente o pensamento de um homem não é conhecido de outro, por duplo impedimento: pela crassidão do corpo, ou pela vontade que esconde os seus segredos. Ora, o primeiro obstáculo desaparecerá na ressurreição e não existe nos anjos. Mas o segundo permanecerá depois dela e existe atualmente nos anjos. E contudo, a claridade do corpo representará a qualidade da inteligência, quanto à quantidade da graça e da glória. Assim que um poderá ver a inteligência do outro.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora um anjo veja as espécies inteligíveis de outro, por ser proporcionado à nobreza das substâncias o modo das espécies inteligíveis, na sua maior e menor universalidade; todavia não se segue que um conheça, como outro, pensando atualmente, uma dessas espécies inteligíveis.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O apetite dos brutos não é senhor do seu ato, mas segue a impressão de outra causa, corporal ou espiritual. Como, pois, os anjos conhecem as coisas corpóreas e as disposições delas, pode, por aí, conhecer o que está no apetite e na apreensão fantástica dos brutos e também dos homens, enquanto, nestes, o apetite sensitivo se atualiza por alguma impressão corpórea, como sempre acontece com os brutos. Contudo não resulta daí necessariamente, que os anjos conheçam o movimento do apetite sensitivo e a apreensão da fantasia no homem, enquanto movidos pela vontade e pela razão; pois, a parte inferior da alma participa, de certo modo, da razão, como obediente à que impera, segundo diz Aristóteles. E, por isso, não se segue que o anjo, conhecendo o que está no apetite sensitivo ou na fantasia do homem, conheça o que está na cogitação ou na vontade; porque o intelecto e a vontade não dependem do apetite sensitivo e da fantasia, antes, pode usar destes de diversos modos.

ART. V — SE OS ANJOS CONHECEM OS MISTERIOS DA GRAÇA


(IV Sent., dist, X, a. 4, qa. 4; Ephes., cap. III, lect. III)

O quinto discute-se assim. — Parece que os anjos conhecem os mistérios da graça.

1. — Pois, dentre todos os mistérios, o mais excelente é o da Incarnação de Cristo. Ora, os anjos o conhecem desde o princípio; pois Agostinho diz, que este mistério estava escondido em Deus, desde os séculos, de modo que fosse conhecido dos principados e potestades celestes. E a Escritura diz (1 Tm 3, 16), que foi visto pelos anjos aquele grande sacramento de piedade. Logo, os anjos conhecem os mistérios da graça.

2. Demais. — As razões de todos os mistérios da graça estão contidas na divina sabedoria. Ora, os anjos vêm a sabedoria mesma de Deus, que lhe é a essência. Logo, os anjos conhecem os mistérios da graça.

3. Demais. — Os profetas são instruídos pelos anjos, como se vê em Dionísio. Ora, os profetas conheceram os mistérios da graça, conforme diz a Escritura (Am 3, 7): Porque o Senhor Deus não faz nada sem ter revelado antes o seu segredo aos profetas, seus servos. Logo, os anjos conhecem os mistérios da graça. Mas, em contrário, ninguém aprende o que conhece. Ora, os anjos, mesmo os mais elevados, interrogam sobre os mistérios divinos da graça e aprendem; pois, como se disse, a Sagrada Escritura introduz certas essências celestes fazendo perguntas ao próprio Jesus e aprendendo a ciência da sua divina operação por nós, e Jesus ensinando-as sem intermediário. E isto mesmo se vê na Escritura (Is 63, 1), onde aos anjos que perguntam: Quem é este que vem de Edom? Jesus responde: Eu, que falo a justiça.

SOLUÇÂO. — Os anjos têm duplo modo de conhecer. – Um, natural, pelo qual conhecem as coisas, quer pela essência deles, quer por espécies inatas. E, por este modo, não podem conhecer os mistérios da graça, que dependem da pura vontade de Deus. Pois, se um anjo não pode conhecer os pensamentos de outro, dependentes da vontade deste, muito menos poderá conhecer o que só da vontade de Deus depende: e assim argumenta a Escritura (1 Cor 2, 11): Ninguém conhece as coisas que são do homem, senão o espírito do homem, que nele mesmo reside; assim também as coisas que são de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.

Há, porém, outro modo de conhecimento angélico, que os torna felizes, pelo qual vêm o Verbo e neste as coisas. E, por este modo, conhecem os mistérios da graça, não todos, por certo, nem todos os anjos igualmente, mas na medida em que Deus quiser lhes revelar, segundo a Escritura (1 Cor 2, 10): A nós, porém, Deus revelou-o por meio de seu Espírito. E isto de maneira que os anjos superiores, contemplando mais profundamente a divina sabedoria, conhecem, na visão de Deus, mais e mais altos mistérios e os manifestam aos inferiores, iluminando-os. E, desses mistérios, alguns deles os conheceram desde o princípio da sua criação; outros, porém, mais tarde lhes foram revelados, segundo lhes convinham aos deveres.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — De duplo modo podemos nos referir ao mistério da Incarnação de Cristo. Em geral, e assim a todos os anjos foi revelado desde o princípio da beatitude deles. E a razão é que todos os ofícios deles dependem deste princípio geral, como diz a Escritura (Heb 1,14): Em verdade todos os espíritos são uns administradores, enviados para exercer o seu ministério a favor daqueles que hão de receber a herança da salvação; o que se realiza pelo mistério da Incarnação. Por isso é necessário que esse mistério tenha sido revelado a todos comumente, desde o princípio. De outro modo, podemos considerar o mistério da Incarnação quanto à condições especiais. E, assim, nem a todos os anjos foram todas reveladas, desde o princípio; antes, certas só mais tarde foram conhecidas dos anjos, mesmos superiores, como se vê pela citada autoridade de Dionísio.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora os anjos bem-aventurados contemplem a divina sabedoria, todavia, não a compreendendo, não conhecem necessariamente tudo o que ela encerra.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Tudo o que os profetas conheceram sobre o mistério da graça, pela divina revelação, mais excelentemente foi revelado aos anjos. E embora Deus tivesse revelado, em geral, aos profetas, o que haveria de fazer para a salvação do gênero humano, contudo, nesta matéria, os Apóstolos conheceram os profetas, conforme está na Escritura (Ef 3, 4): Por onde podeis, lendo-as, conhecer a inteligência que tenho do mistério de Cristo, o qual em outras gerações não foi conhecido dos filhos dos homens, assim como agora tem sido revelado aos seus santos Apóstolos. Mas ainda, dentre os próprios profetas, os posteriores conheceram o que não conheceram os anteriores, segundo a Escritura (Sl 118, 100): Mais que os anciãos entendi; e Gregório diz que na sucessão dos tempos acentuou-se o aumento do conhecimento divino.

domingo, 28 de novembro de 2010

Iº Domingo do Advento

Iº Domingo do Advento

Introitus - Ad te levávi - Salmo 24, 1-4

Ad te levávi animam meam: Deus meus, in te confíde, non erubéscam: neque irrídeant me inimíci mei: étenim univérsi, qui te exspéctant, non confundéntur. Ps. Vias tuas, Dómine, demónstra mihi: et sémitas tuas édoce me. V. Glória Patri ...
A Vós elevo a minha alma; ó meu Deus, em Vós confio; não serei envergonhado. Não se riam de mim os meus inimigos, porque todos os que em Vós esperam não serão confundidos. Ps. Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. V. Glória ao Pai...

Coleta

Excita, quǽsumus, Dómine, poténtiam tuam, et veni: ut ab imminéntibus peccatórum nostrórum perículis, te mereámur protegénte éripi, te liberánte salvári: Qui vivis et regnas cum Deo Patre in unitáte Spíritus Sancti Deus: per ómnia sǽcula sæculórum. V. Amen.
Manifestai, Senhor, Vos pedimos, o vosso poder e vinde, para que, por vossa proteção, mereçamos ser libertados dos perigos a que os nossos pecados nos expõem, e ser salvos por vossa mão libertadora. Vós, que, sendo Deus, viveis e reinais com Deus Pai em união com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. V. Amém.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Questão LVI - Do conhecimento angélico dos seres imateriais

QUESTÃO LVI — DO CONHECIMENTO ANGÉLICO DOS SERES IMATERIAIS


Em seguida se tratará do conhecimento dos anjos quanto às coisas que conhecem. E, primeiro, do conhecimento dos seres imateriais. Segundo, do conhecimento das coisas materiais.
Sobre o primeiro ponto três artigos se discutem:
  1. Se o anjo se conhece a si mesmo;
  2. Se um anjo conhece outro;
  3. Se o anjo, pelas suas faculdades naturais, conhece a Deus.

ART. I — SE O ANJO SE CONHECE A SI MESMO


(II Cont. Gent., cap. XCVIII; De Verit., q. 8, a. 6; III De Anima, lect. IX; De Causis, lect. XIII)

O primeiro discute-se assim. — Parece que o anjo não se conhece a si mesmo.

1. — Pois, diz Dionísio que os anjos ignoram as próprias virtudes. Ora, conhecida a substância, conhecida está a virtude. Logo, o anjo não conhece a sua essência.

2. Demais. — O anjo é uma substância singular; do contrário, não agiria, pois, os atos são próprios dos seres singulares subsistentes. Ora, não sendo nenhum singular inteligível, não pode ser inteligido; e, assim, como o anjo só tem o conhecimento intelectual, nenhum anjo poderá conhecer-se a si mesmo.

3. Demais. — O intelecto se move pelo inteligível, pois, o inteligir é certo modo de padecer, como diz Aristóteles. Ora, nada se move ou parede por si mesmo, como se vê pelas coisas corpóreas. Logo, o anjo não pode inteligir-se a si mesmo.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que o anjo, na sua própria conformação, i. é, na iluminação da verdade se conhece a si mesmo.

SOLUÇÃO. — Como já ficou dito (q. 14, a. 2; q. 54, a. 2), o objeto comporta-se diferentemente em relação à ação imanente no sujeito e à transitiva para algo de exterior. Pois, nesta última, o objeto ou a matéria, para a qual passa o ato, é separada do agente, como, p. ex., o ser aquecido, do que aquece, e o edifício, do edificador. Mas, para que a ação imanente resulte, é necessário, que o objeto se una com o agente; assim, é necessário que o sensível se una com o sentido para que este se atualize. De modo que o objeto unido com a potência, está para tal ação como forma, princípio de ação nos outros agentes; pois, como o calor é o princípio formal da calefação, no fogo, assim a espécie da coisa vista é o princípio formal da visão nos olhos.

Mas devemos considerar que tal espécie do objeto, ora está na faculdade cognoscitiva, em potência somente e, então, esta só em potência conhece; sendo, para que conheça em ato, necessário esteja a faculdade cognoscitiva reduzida ao ato da espécie. Se, porém, a faculdade tiver a espécie sempre em ato, então por esta pode conhecer sem nenhuma mutação ou recebimento precedente. Donde resulta que ser movido pelo objeto não é da essência do ser conhecente como tal, mas enquanto é potência cognoscitiva. E não importa para ser a forma princípio de ação, que ela própria seja às vezes inerente, e que seja por si subsistente; pois, o calor não aqueceria menos se fosse por si subsistente, do que aquece sendo inerente. Portanto, se há algum ser que, no gênero dos inteligíveis, se comporte como forma inteligível subsistente, esse se intelige a si mesmo. O anjo, porém, sendo imaterial, é uma forma subsistente e, assim, inteligível em ato. Donde resulta que, pela sua forma, que é a sua substância, intelige-se a si mesmo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A citação é de antiga tradução, corrigida pela nova, que diz: além disso também eles mesmos, i e., os anjos, terem conhecido as próprias virtudes; e em lugar disto estava na antiga tradução: e alem disso eles ignorarem as próprias virtudes. Embora também se possa conservar a letra da antiga tradução, quanto à este ponto, que os anjos não conhecem perfeitamente a sua virtude, enquanto procedente da ordem da sabedoria divina, para eles incompreensível.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Nós não inteligimos as coisas corpóreas singularmente, não em razão da singularidade, mas da matéria que é nelas o princípio de individuação. Donde, se alguns seres singulares forem subsistentes, sem matéria, como os anjos, nada impede que sejam inteligíveis em ato.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Ser movido e padecer convêm ao intelecto em potência; por isso, não tem lugar no intelecto angélico, sobretudo quanto ao inteligir-se este a si mesmo. Pois, a ação do intelecto não é da mesma natureza que a dos corpos, transeunte para outra matéria.

ART. II — SE UM ANJO CONHECE OUTRO


(II Cont. Gent., cap. XCVIII; De Verit., q. 8, art 7)

O segundo discute-se assim. — Parece que um anjo não conhece outro.

1. — Pois, diz o Filósofo que, se o intelecto humano encerrasse em si alguma natureza do número das naturezas das coisas sensíveis, essa, existente interiormente, impediria a manifestação de naturezas estranhas; do mesmo modo que, se a pupila fosse colorida de uma certa cor, não poderia ver todas as cores. Ora, o intelecto humano se comporta, como o angélico, no conhecimento das coisas corpóreas, como o angélico, no dos seres imateriais. Ora, como este encerra em si uma determinada natureza, do número das naturezas imateriais, resulta que não pode conhecer outros.

2. Demais. — Toda inteligência conhece o que lhe é superior, enquanto por este causada; e o que lhe é inferior, enquanto o causa. Ora, um anjo não é a causa do outro. Logo, um não conhece outro.

3. Demais. — Um anjo não pode, pela sua própria essência, como conhecente, conhecer outro; pois, todo conhecimento supõe a razão de semelhança, e a essência do anjo conhecente, não sendo semelhante à do conhecido, senão genericamente, como já vimos (q. 50, a. 4), resulta que um anjo não teria de outro conhecimento próprio, mas só geral. E também, do mesmo modo, não se pode dizer que um anjo conheça outro pela essência do conhecido, pois o pelo que o intelecto intelige lhe é intrínseco e só a Trindade é extrinsecamente interior à inteligência angélica. Semelhantemente, ainda, não se pode dizer que um anjo conhece outro por uma espécie, pois esta, sendo imaterial, como o anjo inteligido, deste não difere, logo, de nenhum modo pode um anjo conhecer outro.

4. Demais. — Se um anjo inteligisse outro, ou seria por uma espécie inata e, então, se Deus criasse um novo anjo este não poderia ser conhecido pelos já existentes; ou por uma espécie adquirida das coisas e, então, resultaria que os anjos superiores não poderiam conhecer os inferiores, dos quais nada recebem. Logo, de nenhum modo, um anjo pode conhecer outro. Mas, em contrario, é o dito: toda inteligência conhece as coisas que se não corrompem.

SOLUÇÃO. — Como diz Agostinho, de duplo modo efluiram do Verbo de Deus as coisas nele existentes abeterno: para o intelecto angélico, e como subsistentes na sua própria natureza. Efluiram para o intelecto angélico por lhe ter impresso as semelhanças das coisas que criou no ser natural. Porém, no Verbo de Deus, existiram, existiram não só as noções das coisas corpóreas mas também as de todas as criaturas espirituais. Assim, pois, em cada uma destas criaturas espirituais foram impressas pelo Verbo de Deus a noções de todas as coisas, tanto corpóreas como espirituais. Todavia, por tal arte que, em cada anjo fosse impressa a noção da sua espécie, segundo a existência natural e intelectual, simultaneamente; de modo que o anjo subsistisse em a natureza de sua espécie, inteligindo-se por esta espécie. Porém, as noções de outras naturezas, tanto espirituais como naturais foram impressas no anjo somente segundo a existência intelectual, de modo que o anjo, por tais espécies impressas, conhecesse tanto as criatura corpóreas como as espirituais.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — as naturezas espirituais dos anjos se distinguem umas das outras por uma certa ordem, como já se disse (q. 50, a. 4, ad 1, 2). Assim que a natureza de um anjo não lhe impede o intelecto de conhecer outras naturezas angélicas; pois tanto os superiores como os inferiores têm-lhe afinidade com a natureza, existindo diferença somente quanto aos diversos graus de perfeição.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A relação de causa e a de causado não faz com que um anjo conheça outro, senão em razão da semelhança, enquanto causa e causado são semelhantes. Donde, admitindo-se entre os anjos semelhança sem causalidade, haverá em um o conhecimento do outro.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Um anjo conhece outro pela espécie deste, existente no intelecto daquele, e a qual difere de outro anjo, de quem é semelhança, não pela existência material e imaterial, mas pela natural e intencional. Pois, é o anjo mesmo que é forma subsistente, com existência natural, e não a sua espécie, existente no intelecto de outro anjo, no qual ela tem existência inteligível somente; do mesmo modo que a forma da cor, na parede, tem existência natural, tendo, entretanto, no meio que a transmite, existência intencional somente.

RESPOSTA À QUARTA. — Deus fez cada criatura proporcionada ao universo que quis criar. Por onde, se Ele tivesse determinado fazer mais anjos ou mais naturezas das coisas, teria impresso nas mentes angélicas mais espécies inteligíveis; do mesmo modo que o edificador, querendo fazer uma casa maior, far-lhe-ia maior o fundamento. Assim a razão porque Deus acrescentasse alguma criatura ao universo seria também a de acrescentar mais alguma espécie inteligível ao anjo.

ART. III — SE OS ANJOS, PELAS SUAS FACULDADES NATURAIS, PODEM CONHECER A DEUS


(II Sent., dist. XXIII, q. 2, a. 1; III Cont. Gent., cap. XLI, XLIX; De Verit., q. 8, a. 3)

O terceiro discute-se assim. — Parece que os anjos, pelas suas faculdades naturais, não podem conhecer a Deus.

1. — Pois, Dionísio diz, que Deus está colocado, por uma virtude incompreensível, sobre todas as inteligências celestes. E, em seguida, acrescenta que, por estar acima de toda substância, está segregado de todo conhecimento.

2. Demais. — Deus dista infinitamente do intelecto angélico. Ora, seres infinitamente distantes não podem ser atingidos. Logo, resulta que o anjo, pelas suas faculdades naturais, não pode conhecer a Deus.

3. Demais. — A Escritura diz (1 Cor 13, 12): Nós agora vemos a Deus como por um espelho, em enigmas; mas então face a face. Donde resulta que há um duplo conhecimento de Deus. Por um, Deus é visto na sua essência, no sentido em que se diz vê-lo face a face; por outro, é visto no espelho das criaturas. Ora, conhecer a Deus, pelo primeiro modo, o anjo não o pode pelas suas faculdades naturais, como já antes se demonstrou (q. 12, a. 4). E quanto à visão especular, ela não convém aos anjos, que não conhecem as coisas divinas pelas coisas sensíveis, como diz Dionísio. Logo, pelas suas faculdades naturais, não podem conhecer a Deus.

Mas, em contrario, os anjos têm maior poder de conhecimento que os homens. Ora, estes, pelas faculdades naturais, podem conhecer a Deus, segundo a Escritura (Rm 1, 19): Porque o que se pode conhecer de Deus é-lhes manifesto. Logo, com maior razão, os anjos.

SOLUÇÃO. — Os anjos podem ter, pelas suas faculdades naturais, algum conhecimento de Deus. Para a evidencia do que, devemos considerar nos três modos pelos quais se pode conhecer alguma coisa. De um modo, pela presença da essência da coisa no conhecente, como a luz é vista nos olhos; e, assim, se diz que o anjo se intelige a si mesmo. De outro modo, pela presença da semelhança da coisa na potência cognoscitiva; como uma pedra é vista pelos olhos, por estar nestes a semelhança dela. De um terceiro modo, enquanto a semelhança da coisa conhecida não é recebida imediatamente dessa coisa, mas de outra que primeiro a recebeu; assim, vemos um homem num espelho. Ora, ao primeiro modo pertence o conhecimento divino, pelo qual Deus conhece pela sua essência; e este modo de conhecer não o pode ter criatura nenhuma pelas suas faculdades naturais, como antes já se disse (q. 12, a. 4).

Ao terceiro modo pertence o conhecimeto pelo qual conhecemos a Deus, nesta vida, pela semelhança dele, existente nas criaturas, segundo a Escritura (Rm 1, 20): Porque as coisas visíveis de Deus, compreendendo-se pelas obras que foram feitas, tornaram-se visíveis. E, por isso, se diz que vemos a Deus num espelho, o conhecimento, porém, pelo qual o anjo, pelas suas faculdades naturais, conhece a Deus, é um meio termo entre os dois outro modos, e se assemelha ao conhecimento peço qual uma coisa é inteligida por meio da espécie dela recebida. Pois, estando a imagem de Deus impressa na própria natureza do anjo, este, pela sua essência, conhece a Deus, de quem é semelhança. Todavia, não contempla a essência mesma de Deus, porque nenhuma semelhança criada é suficiente para representar tal essência. Por onde, tal conhecimento mais se aproxima ao do terceiro modo, por ser a natureza mesma do anjo um como espelho representativo da divina semelhança.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Dionísio se refere ao conhecimento de compreensão, como as suas palavras expressamente o declaram. E, de tal modo, Deus não é conhecido de nenhuma inteligência criada.

RESPOSTA À SEGUNDA. — De distar infinitamente de Deus o intelecto e a essência do anjo resulta que este não pode compreender a Deus, nem contemplar a divina essência, pelas suas faculdades naturais. Não resultam porém, quem por isso, nenhum conhecimento possa ter de Deus; pois, assim como Deus dista infinitamente do anjo, assim o conhecimento que Deus tem de si mesmo dista infinitamente do que o anjo tem de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O conhecimento, que o anjo naturalmente tem de Deus é um meio termo entre os dois modos de conhecer; contudo se aproxima mais de um do que do outro, como acima se disse.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Questão LV - Dos meios do conhecimento angélico

QUESTÃO LV — DOS MEIOS DO CONHECIMENTO ANGÉLICO


Em seguida trataremos dos meios do conhecimento angélico. E, sobre este assunto, três artigos se discutem:
  1. Se os anjos conhecem todas as coisas pela substância deles ou por algumas espécies;
  2. Se por espécies, se estas coisas são conaturais ou recebidas das coisas;
  3. Se os anjos superiores conhecem por espécies mais universais que os inferiores;

ART. I — SE OS ANJOS CONHECEM PELA SUA SUBSTÂNCIA


(Infra, q. 84, a. 2, q. 87, a. 1; Iª IIª, q. 50, a. 6; q. 51, a.1, ad 2; II Sent., dist. III, part, II, a. 2, a. 1; III, dist., XIV, a. 1, qª 2; II Cont. Gent., cap. XLVIII; De Verit., q. 8, a. 8)

O primeiro discute-se assim. — Parece que os anjos conhecem pela substância.

1. — Pois Dionísio diz que os anjos conhecem as coisas da terra pela natureza própria da inteligência. Ora, a natureza do anjo é a sua essência. Logo, é por esta que o anjo conhece as coisas;

2. Demais. — Segundo o Filósofo, nos seres sem matéria identificam-se a inteligência e o que é inteligido. Ora, é em virtude daquilo pelo que se intelige que o inteligido se identifica com o ser que intelige. Logo, nos seres sem matéria, como os anjos, o pelo que se intelige é a substância mesma do ser inteligente.

3. Demais. — O que existe em outrem neste está ao modo do mesmo. Ora, o anjo, tendo natureza intelectual, tudo o que nele existe aí está por modo inteligível, mas tudo nele está, porque os seres inferiores estão nos superiores essencialmente, e estes, naqueles, participativamente; por onde, diz Dionísio, que Deus congrega tudo em todos, isto é, todas as coisas em todos os seres. Logo, o anjo conhece, na sua substância, todas as coisas.

Mas, em contrário, Dionísio diz que os anjos são iluminados pelas razões das coisas, logo, conhecem por estas e não pela substância própria.

SOLUÇÃO. — O pelo que o intelecto intelige, está para o intelecto, que intelige, como se lhe fosse a forma; pois é pela forma que o agente age. Ora, para a potência ser perfeitamente completada pela forma, é necessário seja contido por esta tudo o ao que a potência se estende; e daí vem que, nos seres corruptíveis, a forma não completa perfeitamente a potência da matéria, porque esta se estende a mais seres que os abrangidos por tal ou tal forma. A potência intelectiva do anjo, porém, estende-se à intelecção de todas as coisas, por ser o ente ou o verdadeiro comum o objeto do intelecto. Todavia, a essência angélica, determinada a um gênero e a uma espécie, não compreende em si todas as coisas, sendo isto próprio à essência divina, de tal modo infinita, que em si e de modo perfeito, compreende, absolutamente, a todas. Por onde, só Deus conhece tudo pela sua essência; ao passo que o anjo assim não conhece, sendo necessário que o seu intelecto sela aperfeiçoado por certas espécies, para as conhecer.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Quando se diz que o anjo conhece as coisas pela sua natureza, a preposição pela não determina o meio de cognição, que pela semelhança do objeto, mas a virtude cognoscitiva, que convém ao anjo pela sua natureza.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Como o sentido em ato é o sensível em ato, no dizer de Aristóteles, sem que, todavia, a própria faculdade sensitiva seja a semelhança mesma do sensível que está no sentido, mas que de ambos resulta a unidade como do ato e da potência; assim também se diz que a inteligência em ato é o objeto inteligido em ato, não por ser a substância da inteligência a semelhança mesma pela qual intelige, mas por lhe ser tal semelhança a forma. Assim, identifica-se esta expressão: nos seres sem matéria o mesmo é a inteligência e o objeto inteligido. – como esta outra: inteligência em ato é o inteligido em ato. Pois, é por ser imaterial que alguma coisa é inteligida em ato.

RESPOSTA À TERCEIRA. — As coisas inferiores, bem com as superiores, ao anjo lhe estão, de certo modo, na substância; não por certo, perfeitamente, nem pela razão própria, pois a essência do anjo, sendo finita, distingue-se, pela sua própria natureza, dos outros seres; mas por uma certa razão comum, na essência de Deus, porém, estão todas as coisas perfeitamente e segundo a razão própria, como na primeira e universal virtude operativa, da qual procede tudo quanto existe, seja próprio ou comum, em qualquer coisa. E por isso Deus, pela sua essência, tem o conhecimento próprio de todas as coisas; não, porém, o anjo, que só o tem comum.

ART. II — SE OS ANJOS INTELIGEM POR ESPÉCIES RECEBIDAS DAS COISAS


(II Sent., dist. III, part. II, q. 2, a. 1 ad 2; II Cont. Gent., cap. XCVI; De Verit., q. 8, a. 9)

O segundo discute-se assim. — Parece que os anjos inteligem por espécies das coisas.

1. — Pois, tudo o que é inteligido o é por alguma semelhança de si existente no ser que intelige. Ora, a semelhança de um ser, existente em outro, neste existe, ou a modo de exemplar, de maneira que tal semelhança é a causa do ser. Por onde e necessariamente toda a ciência do ser inteligente ou será a causa da coisa inteligida, ou será causada por esta. Ora, a ciência do anjo não é a causa das coisas existentes, em a natureza, mas só a ciência divina. Logo, é necessário que todas as espécies pelas quais o intelecto angélico intelige sejam recebidas das coisas.

2. Demais. — A luz da inteligência angélica é mais forte que a luz do intelecto agente, na alma. Ora, este abstrai dos fantasmas as espécies inteligíveis. Logo, aquela pode abstrair as espécies mesmo das próprias coisas sensíveis. E assim nada impede se diga que o anjo intelige por espécies recebidas das coisas.

3. Demais. — As espécies existentes no intelecto comportam-se indiferentemente para com o presente ou o distante, salvo enquanto recebidas das coisas sensíveis. Se, pois, o anjo não intelige por tais espécies, o seu conhecimento, se comportaria indiferentemente para com as coisas próximas e as distantes e, o anjo se moveria localmente em vão.

Mas, em contrário, diz Dionísio que os anjos não congregam o conhecimento divino mediante as coisas divisíveis ou sensíveis.

SOLUÇÃO. — As espécies pelas quais os anjos inteligem não são recebidas das coisas, mas lhes são conaturais a eles. Pois, a distinção e a ordem das substâncias espirituais devem ser entendidas como a distinção e a ordem das corporais. Ora, os corpos superiores têm, em a sua natureza, a potência totalmente aperfeiçoada pela forma; o que se não dá com os inferiores, que recebem ora, uma, ora, outra forma, pela ação de algum agente. Semelhantemente, também as substâncias inferiores intelectuais, a saber, as almas humanas, têm uma potência intelectiva naturalmente incompleta, mas que se completa sucessivamente ao receberem das coisas as espécies inteligíveis. Porém, nas substâncias espirituais superiores, isto é, nos anjos, a potência intelectiva é naturalmente completa pelas espécies inteligíveis, enquanto estas lhe são conaturais para inteligir tudo que naturalmente podem conhecer.

E isto mesmo também resulta do próprio modo de ser de tais substâncias. Pois, as almas substanciais inferiores; i. é, as almas, têm um ser afim com o corpo, enquanto formas dos corpos; assim que, pelo seu próprio modo de ser, lhes cabe obtenham dos corpos e por eles a sua perfeição inteligível; do contrario, em vão estariam unidas a estes. Porém as substâncias superiores, i. é, os anjos, são totalmente independentes dos corpos, subsistentes imaterialmente e no seu ser inteligível; e, por isso, alcançam a sua perfeição inteligível por um efluxo inteligível, pelo qual recebem de Deus as espécies das coisas conhecidas simultaneamente com a natureza intelectual. Por onde, diz Agostinho, que os outros seres inferiores aos anjos são causados de tal modo que primeiro cheguem ao conhecimento da criatura racional e, depois, sejam constituídos no seu gênero.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Na mente do anjo estão as semelhanças das criaturas, não destas mesmas promanadas, mas de Deus, causa delas e em quem primariamente existem a semelhanças das coisas. E por isso Agostinho que, assim como a razão pela qual a criatura é feita está primeiro no Verbo de Deus, do que essa criatura mesma, assim o conhecimento dessa mesma razão primeiro se realiza na criatura intelectual, vindo, depois, a constituição mesma da criatura.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Só pelo meio se pode chegar de um extremo a outro. Ora, o ser da forma, na imaginação, e que, se bem não tenha matéria, não vai sem condições materiais, é o meio entre o ser da forma, que está na matéria, e o da que está no intelecto pela abstração da matéria e das condições materiais. Por onde, por poderoso que seja o intelecto angélico, não poderia reduzir as formas materiais ao ser inteligível, sem que primeiro as reduzisse ao das formas imaginadas; ora, isto é impossível por não ter o anjo imaginação, como já se disse (q. 54, a. 5). Mas mesmo dado que pudesse abstrair das coisas materiais as espécies inteligíveis, não as abstrairia porque, tendo espécies inteligíveis conaturais, delas não precisaria.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O conhecimento do anjo se comporta indiferentemente para com o que é localmente distante e próximo. Mas nem por isso o movimento local do anjo é em vão, pois, não se move localmente para buscar o conhecimento, mas obrar alguma coisa em algum lugar.

ART. III — SE OS ANJOS SUPERIORES INTELIGEM POR ESPÉCIES MAIS UNIVERSAIS QUE A DOS INFERIORES


(Infra., q. 89, a. 1; Sent., dist. III, part. II, q. 2, a. 2; II Cont. Gent., cap. XCVIII; De Verit., q. 8, a. 10; Qu. De Anima, a. 7, ad 2; a. 18; De Causis, lect. X)

O terceiro discute-se assim. — Parece que os anjos superiores não inteligem por espécies mais universais que as dos inferiores.

1. — Pois, considera-se o universal como abstraído do particular. Ora, os anjos não inteligem por espécies abstraídas das coisas. Logo, não se pode dizer que as espécies do intelecto angélico sejam mais ou menos universais.

2. Demais. — O conhecido em especial o é mais perfeitamente do que o conhecido em universal; pois, conhecer alguma coisa em universal é, de certo modo, o meio entre a potência e o ato. Se, portanto, os anjos superiores conhecem por formas mais universais do que as dos inferiores, segue-se que aqueles têm uma ciência mais imperfeita que a destes; o que é inadmissível.

3. Demais. — Coisas diversas não podem ter a mesma noção. Ora, se o anjo superior conhece, por uma forma universal, as diversas coisas, que o inferior conhece por várias formas especiais, resulta que aquele usa uma forma universal para conhecer coisas diversas. Logo, não poderá ter um conhecimento próprio de cada uma; o que é inadmissível.

Mas em contrário diz Dionísio que os anjos superiores participam mais em universal, da ciência, do que os inferiores. E, noutro passo que os superiores têm formas mais universais.

SOLUÇÃO. — entre os seres superiores são os que mais próximos e semelhantes são ao ser primeiro, que é Deus. Ora, em Deus, toda a plenitude do conhecimento intelectual contém-se na una essência divina, pela qual Ele tudo conhece. Esta plenitude inteligível porém existe nas criaturas inteligíveis de modo inferior e menos absolutamente. E por isso é forçoso que as inteligências inferiores conheçam por muitas espécies o que Deus conhece pela sua essência una; e tanto mais serão essas espécies quanto mais inferior for a inteligência. Assim, pois, quanto mais for o anjo superior, tanto mais poderá apreender, por menos espécies, a universalidade dos inteligíveis. E portanto e necessariamente as suas formas serão mais universais, abrangendo cada uma delas muitas coisas. E mesmo em nós temos de certo modo exemplo disto. Pois certos, por debilidade da inteligência, não podem compreender a verdade inteligível sem que lhes expliquem cada verdade em particular; ao passo que outros, de mais forte inteligência, com pouco podem compreender muito.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O universal pode ser abstraído dos seres particulares, enquanto o intelecto, conhecendo-o tira das coisas o conhecimento. Porém, ao intelecto que não conhecer deste modo o universal por ele conhecido não será abstraído das coisas, mas lhes preexistirá de certo modo; quer na ordem causal, sendo assim que as razões universais das coisas existem no Verbo de Deus; quer ao menos, na ordem da natureza, estando assim tais razões no intelecto angélico.

RESPOSTA À SEGUNDA. — De dois modos se pode conhecer uma coisa em universal. Em relação à coisa conhecida, como se se lhe conhecesse somente a natureza universal; e assim conhecer alguma coisa em universal é conhecer de modo mais imperfeito; pois, imperfeitamente conheceria o homem quem dele conhecesse apenas a qualidade de animal. De outro modo, quanto ao meio de conhecer e, assim, é mais perfeito conhecer alguma coisa em universal; pois, mais perfeito é o intelecto que, por um meio universal, pode conhecer cada ser em particular, do que não pode.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Seres diversos não podem ter a mesma razão adequada. Mas, se for excelente, pode ser uma mesma a razão própria e a semelhança de seres diversos. Assim, no homem, há uma prudência universal quanto a todos os atos de virtude; e essa mesma pode ser considerada como razão própria e semelhança da prudência particular do leão, quanto aos atos de magnanimidade; da prudência da raposa, quanto aos atos de cautela, e assim por diante. Semelhantemente, a essência divina, pela sua excelência, é tomada como a razão própria de tudo o que nela está singularmente; donde o se lhe assimilarem os seres singulares pelas suas razões próprias. E do mesmo modo se deve dizer, da razão universal existente na mente angélica, que por esta, em virtude da sua excelência, muitas coisas podem ser conhecidas por conhecimento próprio.