terça-feira, 20 de setembro de 2011

No limiar do batistério

No limiar do batistério


17. Ouvira eu falar, ainda criança, da vida eterna que nos é prometida, graças à humildade do vosso Filho, Deus e Senhor nosso, descido até à nossa soberba. Fui marcado pelo sinal-da-cruz e condimentado com sal divino, logo que saí do seio da minha mãe, que punha em Vós todas as esperanças.

Vistes, Senhor, que, sendo ainda criança, sobrevindo-me certo dia uma febre alta, motivada numa opressão do estômago, bati às portas da morte. Sabeis, meu Deus, pois já então por mim vigiáveis, com que ardor e fé pedi à piedade de minha mãe e de nossa mãe comum — a vossa Igreja — o batismo de Cristo, Deus e Senhor meu. A minha mãe carnal, porque na sua fé e coração puro me gerava com maior solicitude para a vida eterna, perturbada, procurava com pressa iniciar-me e purificar-me nos sacramentos da salvação, confessando-Vos eu, Senhor Jesus, para obter a remissão dos meus pecados.

Dentro em breve, porém, achei-me melhor, e essa purificação foi diferida, como se fosse necessário continuar a corromper-me, para prolongar a vida. Na verdade, depois do banho do batismo, as recaídas na imundície do pecado seriam mais graves e perigosas.

Tinha eu já verdadeira fé, como minha mãe e todos os de casa, exceto meu pai, que não prevaleceu em mim contra os direitos da piedade materna de eu crer em Cristo, no qual ele ainda não acreditava. Minha mãe desejava ardentemente que eu Vos considerasse a Vós, meu Deus, como pai, mais do que àquele que ainda não tinha fé.

Nisso a ajudáveis a triunfar do marido, a quem servia melhor pelo fato de nisso obedecer às vossas ordens.

18. Rogo-Vos, meu Deus, que me mostreis — se Vos apraz — qual o desígnio por que me foi então diferido o batismo: se seria para meu bem soltarem-se ou não as rédeas do pecado. Por que razão ainda agora de toda parte chega aos meus ouvidos a respeito de uns ou de outros: "deixai-o fazer o que quiser, pois ainda não está batizado"? Mas da saúde do corpo ninguém diz: "deixai-o, que se fira mais, porque ainda não está curado"!

Quanto me não era preferível ser logo curado, obtendo, pela minha diligência e dos meus, conservar intata, sob a vossa proteção, a saúde da alma que me tínheis concedido !

Sem dúvida, seria melhor. Minha mãe, porém, já previra quantas e quão grandes ondas de tentações pareciam ameaçar-me depois da infância, e preferiu expor-me a elas, como terra grosseira em que eu depois receberia forma, a expor-me a esse perigo já como imagem.

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