quarta-feira, 7 de julho de 2010

Capítulo VI

CAPÍTULO VI


Lemos na "História Eclesiástica" de Eusébio, escrita em grego e traduzida para o latim por Rufino, o seguinte acontecimento: na Gália, os corpos dos mártires de Lião foram atirados aos cães.

A carne e os ossos que restaram foram reduzidos a cinzas, até a última parcela, e foram jogadas finalmente no rio Ródano, para que não sobrasse nada de sua memória.

Ora, devemos crer que se Deus permitiu tal destruição é para demonstrar aos cristãos que, ao confessarem a Cristo, desprezando esta vida, os mártires devem desprezar ainda mais a sepultura, pois se a detestável crueldade com que foram tratados os corpos desses mártires pudesse afastar do bem-aventurado repouso a alma vitoriosa, Deus certamente não o teria permitido.

Está bem claro o que o Senhor afirmou: "Não temais os que matam o corpo e depois nada mais podem fazer". Isso não significa que os perseguidores perderiam o poder sobre o corpo dos fiéis após a morte, mas ainda que detivessem tal poder, nada mais podiam fazer para diminuir a felicidade das suas vítimas, pois já não podiam atingir a vida consciente delas no além-túmulo e também não podiam danificar mais os próprios corpos, do ponto de vista da integridade da sua ressurreição.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Questão XLIII - Da missão das pessoas divinas

QUESTÃO XLIII. – DA MISSÃO DAS PESSOAS DIVINAS


Em seguida, vamos tratar da missão das Pessoas divinas. E nesta questão discutem-se oito artigos:
  1. Se a alguma das Pessoas divinas é próprio o ser enviada;
  2. Se a missão é eterna ou somente temporal;
  3. Como a Pessoa divina é invisivelmente enviada;
  4. Se a qualquer das Pessoas convém o ser enviada;
  5. Se invisivelmente é enviado tanto o Filho como o Espírito Santo;
  6. Em vista de quem é feita a missão invisível;
  7. Da missão visível;
  8. Se alguma Pessoa se envia a si mesma visível ou invisivelmente.

ART. I. – SE A ALGUMA DAS PESSOAS DIVINAS É PRÓPRIO O SER ENVIADA


(I Sent., dist. XV, q. 1, a. 1; IV Cont. Gent., cap. XXIII; Contra errors Graec., cap. XIV)

O primeiro discute-se assim. – Parece que não é próprio a nenhuma das Pessoas divinas o ser enviada.

1. – Pois, o enviado é menor que quem envia. Ora, uma Pessoa divina não é menor que outra. Logo, uma não é enviada por outra.

2. Demais. – Tudo o que é enviado é separado de quem o envia. Por isso diz Jerônimo: O que está preso e unido a um corpo não pode ser enviado. Ora, das divinas Pessoas, nada é separável, como diz Hilário. Logo, uma Pessoa não é enviada por outra.

3. Demais. – Quem é enviado parte de um lugar e vai de novo a outro, onde não estava. Ora, isto não é possível a uma Pessoa divina, que está em toda parte. Logo, à Pessoa divina não convém o ser enviada.

Mas, em contrário, a Escritura (Jo 8, 16): Eu não sou só, mas eu e o Pai que me enviou.

SOLUÇÃO. – Duas relações implica o conceito de missão: a do enviado com quem o enviou e a do enviado com o termo ao qual é enviado. Ora, o fato de alguém ser enviado supõe uma processão, do enviado, daquele que envia; ou pelo império, como quando o senhor envia o servo; ou por conselho, como se disséssemos que o conselheiro envia o rei a guerrear; ou pela origem, como se disséssemos que a flor é emitida pela árvore. Mas também supõe a relação com o termo ao qual é enviado, de modo a vir a estar de certa maneira onde antes não estava. Ou porque antes de nenhum modo ai estivesse; ou porque de algum modo comece a estar onde antes não estava. Ora, a missão pode convir à Pessoa divina enquanto implica, de um lado, processão original de quem envia; e de outro lado, um novo modo de estar em algum lugar. Assim, dizemos que o Filho foi enviado pelo Pai ao mundo, por neste começar a estar, visivelmente, pela carne assumida; e, contudo, já antes estava no mundo, como diz a Escritura (Jo 1, 10).

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A missão importa diminuição no enviado, por implicar a processão do princípio que envia, pelo império ou pelo conselho; pois, quem ordena é maior e quem aconselha é mais sábio. Mas em Deus não importa senão a processão de origem, que se funda na igualdade, como dissemos (q. 42, a. 4, 6).

RESPOSTA À SEGUNDA. – O enviado, que começa a estar onde antes de nenhum modo estava, move-se localmente, pois que foi enviado; por onde e necessariamente, separa-se localmente de quem o envia. Ora, tal não se dá com a missão da Pessoa divina; porque a Pessoa divina enviada, assim como não começa a estar onde antes não estava, assim não deixa de estar onde estava. Por isso tal missão não implica separação, tendo só a distinção de origem.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A objeção colhe quanto à missão fundada no movimento local, o que não tem lugar em Deus.

ART. II. – SE A MISSÃO PODE SER ETERNA


(I Sent., dist. XV, q. 4, a. 3)

O segundo discute-se assim. – Parece que a missão pode ser eterna.

1. – Pois, diz Gregório: O Filho é enviado do mesmo modo que é gerado. Ora, a geração do Filho é eterna. Logo, também é a missão.

2. Demais. – O ser ao qual convém uma coisa, temporalmente, é mutável. Ora, a Pessoa divina não o é. Logo, a missão da Pessoa divina não é temporal, mas eterna.

3. Demais. – Missão importa processão. Ora, a processão das divinas Pessoas é eterna. Logo, também a missão. Mas, em contrário, a Escritura (Gl 4, 4): Quando veio o cumprimento do tempo, enviou Deus a seu Filho.

SOLUÇÃO. – No atinente à origem das Pessoas divinas, devemos atender a uma certa diferença. Pois certas coisas, pela significação, importam somente relação com o princípio, como a processão e o nascimento. Outras, porém, além da relação com o princípio, determinam o termo da processão. Destas, umas determinam o termo eterno, como a geração e a espiração; pois, a geração é a processão da Pessoa divina para a natureza divina; e a espiração, em sentido passivo, importa processão do Amor subsistente. Mas outras, além da relação com o princípio, implicam um termo temporal, como missão e dação; pois, o enviado o é para estar em outro lugar; e o doado o é para ser possuído. Ora, só temporalmente é que a Pessoa divina pode ser possuída por uma criatura, ou nela estar de modo pelo qual antes não estava.

Por isso, missão e dação a Deus se atribuem apenas temporalmente; mas a geração e a espiração, só abeterno; ao passo que a processão e o nascimento, tanto eterna como temporalmente. Pois, o Filho procede abeterno, para ser Deus; porém, temporalmente, para ser também homem pela missão visível; e estar no homem, pela invisível.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Gregório refere-se à geração temporal do Filho, como gerado, não do Pai, mas, da mãe; ou porque o fato mesmo de o Filho poder ser enviado vem de ser abeterno gerado.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O estar a Pessoa divina em alguém, de novo modo; ou ser possuída por alguém, temporalmente, não implica nenhuma mudança na Pessoa, mas sim na criatura. Assim como também Deus é temporalmente chamado Senhor, por causa das mudanças da criatura.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A missão não somente importa processão de um princípio, mas determina o termo temporal dela; por isso ela só pode ser temporal. Ou a missão inclui a processão eterna e faz o acréscimo do efeito temporal, pois a relação da Pessoa divina com o seu princípio não é senão abeterno. Por onde, há dupla processão, a saber, a eterna e a temporal. Não que a relação com o princípio seja dupla, mas por serem os dois os termos: o temporal e o eterno.

ART. III. – SE A MISSÃO INVISÍVEL DA PESSOA DIVINA É SOMENTE QUANTO AO DOM DA GRAÇA SANTIFICANTE


(I Sent., dist. XIV, q. 2, a. 2)

O terceiro discute-se assim. – Parece que a missão invisível da Pessoa divina não é só quanto ao dom da graça santificante.

1. – Pois, ser enviada a Pessoa divina é o mesmo que ser doada. Por onde, se a Pessoa divina é enviada só quanto aos dons da graça santificante, não será doada a Pessoa divina, mas só os seus dons. Ora, afirmá-lo é o erro dos que dizem não ser o Espírito Santo dado, mas apenas, os seus dons.

2. Demais. – A expressão – quanto – implica uma relação causal. Ora, a Pessoa divina é causa de possuirmos o dom da graça santificante e não, inversamente, conforme a Escritura (Rm 5, 5): A caridade de Deus está derramada em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado. Logo, inconvenientemente se diz que a Pessoa divina é enviada quanto aos dons da graça santificante.

3. Demais. – Agostinho ensina: Diz-se que o Filho é enviado porque é percebido temporalmente pelo nosso espírito. Ora, o Filho é conhecido, não só pela graça santificante, mas também pela graça gratuita, assim como pela fé e pela ciência. Logo, a Pessoa divina não é enviada quanto apenas à graça santificante.

4. Demais. – Rábano diz que o Espírito Santo foi dado aos Apóstolos para operarem milagres. Pelo que não é um dom de graça santificante, mas da gratuidade. Logo, a Pessoa divina não é dada somente quanto à graça santificante.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que o Espírito Santo procede temporalmente, para santificar a criatura. Ora, a missão é a processão temporal. Logo, como a santificação da criatura não se opera senão pela graça santificante, segue-se que a missão invisível da Pessoa divina não existe senão pela graça santificante.

SOLUÇÃO. – À Pessoa divina convém o ser enviada, no sentido em que existe de novo modo em alguém; e ser dada, no sentido de ser possuída por alguém. Ora, nada disto é possível senão pela graça santificante. Pois, há um modo comum pelo qual Deus está em todas as coisas pela essência, pela potência e pela presença; assim como a causa está nos efeitos que participam da sua bondade. Mas além desse modo comum, há um modo especial, que convém a natureza racional, na qual dizemos que Deus está, como o conhecido, no conhecente, e o amado, no amante. E porque, conhecendo e amando, a criatura racional atinge, pela sua operação, o próprio Deus; deste modo especial dizemos não somente que Deus está na criatura racional, mas também nela habita, como no seu templo. E assim, nenhum outro efeito pode ser a razão de estar a Pessoa divina na criatura racional, de novo modo, senão a graça santificante. Por onde, somente quanto a tal graça a Pessoa divina é enviada e procede temporalmente. – Semelhantemente, consideramo-nos possuidores só daquilo de que livremente podemos usar ou gozar. Ora, o poder de gozar a Pessoa divina só é possível pela graça santificante. – Contudo, pelo próprio dom dessa graça possuímos o Espírito Santo que habita em nós. Por onde, o próprio Espírito Santo é dado e é enviado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O dom da graça santificante aperfeiçoa a criatura racional, para que livremente use, não só do próprio dom criado, mas para que também goze da própria Pessoa divina. E assim, a missão invisível se opera pelo dom da graça santificante; e contudo a própria Pessoa divina é dada.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A graça santificante dispõe a alma para receber a Pessoa divina, e é o que queremos significar quando dizemos que o Espírito Santo é dado, quanto ao dom da graça. Contudo, o próprio dom da graça vem do Espírito Santo; e isto o exprimimos quando dizemos que a caridade está derramada em nossos corações pelo Espírito Santo.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Embora por alguns outros efeitos o Filho possa ser conhecido por nós, todavia não habita em nós nem é possuído por nós, por outros efeitos.

RESPOSTA À QUARTA. – Fazer milagres manifesta a graça santificante, assim como a manifesta o dom da profecia e qualquer graça gratuita. Por isso, a graça gratuita é chamada manifestação do Espírito. Assim, pois, se diz que o Espírito Santo foi dado aos Apóstolos para fazerem milagres, porque lhes foi dada a graça santificante como sinal manifestativo. Se, porém, fosse dado somente o sinal da graça santificante, sem a graça, não se diria ter sido dado o Espírito Santo, pura e simplesmente; senão talvez com alguma determinação, assim como se diz que é dado o espírito profético ou de milagres, a quem recebeu do Espírito Santo a virtude de profetizar ou de fazer milagres.

ART. IV. – SE TAMBÉM AO PAI CONVÉM SER ENVIADO


(I Sent., dist. XV, q. 2; Contra errores Graec., cap. XIV)

O quarto discute-se assim. – Parece que também ao Pai convém ser enviado.

1. – Pois, ser a divina Pessoa enviada é o mesmo que ser dada. Ora, o Pai dá-se a si mesmo, porquanto não pode ser possuído se a si mesmo não se der. Logo, pode-se dizer que o Pai a si mesmo se envia.

2. Demais. – A Pessoa divina é enviada para fazer a graça habitar em nós. Ora, pela graça toda a Trindade habita em nós, segundo a Escritura (Jo 14, 23): Nós viremos a ele e faremos nele morada. Logo, qualquer das divinas Pessoas é enviada.

3. Demais. – O que convém a uma das Pessoas convém a todas, salvo as noções e o ser tal pessoa. Ora, a missão não significa nenhuma pessoa; e nem a noção, pois, há somente cinco noções, como se disse (q. 32, a. 3). Logo, a qualquer Pessoa divina convém o ser enviada.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que só o Pai nunca se considera enviado.

SOLUÇÃO. – A missão, por essência, importa a processão de outrem; e, em Deus, quanto à origem, como dissemos (a. 1). Por onde, não procedendo o Pai de outrem, de nenhum modo lhe convém o ser enviado; mas só ao Filho e ao Espírito Santo, aos quais convém o proceder de outrem.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Se dar significa a comunicação liberal de uma coisa, então o Pai se dá a si mesmo, porque liberalmente se comunica à criatura para ser gozado. Se, porém, implica a autoridade de quem dá, relativamente ao que é dado, então não convém ser dado senão à Pessoa divina que procede de outra, assim como não convém o ser enviada.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Embora o efeito da graça também provenha do Pai, que por ela habita em nós bem como o Filho e o Espírito Santo; como, todavia, o Pai não procede de outrem, não o consideramos enviado. E é o que afirma Agostinho quando diz que o Pai, por ser conhecido de alguém no tempo, não se considera por isso enviado; pois não tem de quem provenha ou de quem proceda.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A missão, importando processão de quem envia, inclui na sua significação, a noção; não por certo em especial, mas, em geral, enquanto que provir de outro é comum às duas noções.

ART. V. – SE AO FILHO CONVÉM SER ENVIADO INVISIVELMENTE


(I Sent., dist. XV, q. 4. a. 1; IV Cont. Gent., cap. XXXIII)

O quinto discute-se assim. – Parece que não convém ao Filho ser enviado invisivelmente.

1. – Pois, a missão invisível da Pessoa divina depende dos dons da graça. Ora, todos os dons da graça pertencem ao Espírito Santo, segundo a Escritura (1 Cor 12, 11): Todas estas coisas obra só um e o mesmo Espírito. Logo, o Espírito Santo somente é que é invisivelmente enviado.

2. Demais. – A missão da divina Pessoa se faz pela graça santificante. Ora, os dons pertencentes à perfeição do intelecto não são dons da graça santificante, pois podem ser possuídos sem a caridade, conforme a Escritura (1 Cor 13, 2): E se eu tiver o dom de profecia e conhecer todos os mistérios e quanto se pode saber, e se tiver toda a fé, até o ponto de transportar montes, e não tiver caridade, não sou nada. Procedendo, pois, o Filho como Verbo do intelecto, resulta que lhe não convém ser invisivelmente enviado.

3. Demais. – A missão da Pessoa divina é uma processão, como já se disse (a. 1, 4). Ora, uma é a processão do Filho, outra, a do Espírito Santo. Logo, também são diferentes as missões, se ambos são enviados. E então uma delas será supérflua, por ser suficiente uma para santificar a criatura. Mas, em contrário, diz a Escritura a respeito da Sabedoria divina (Sb 9, 10): Envia-a dos teus santos céus e do trono da tua grandeza.

SOLUÇÃO. – Pela graça santificante, toda a Trindade habita em a nossa alma, segundo a Escritura (Jo 14, 23): Nós viremos a ele e faremos nele morada. Ora, o ser a Pessoa divina enviada a alguém, pela graça invisível, significa um novo modo dessa divina Pessoa inabitar; e a sua origem, de outra Pessoa. Por onde, convindo tanto ao Filho como ao Espírito Santo, inabitar em alguém pela graça e o originar-se de outrem, a ambos convém o serem enviados invisivelmente. Porém ao Pai, embora lhe convenha o inabitar em nós pela graça, contudo não lhe convém o originar-se de outrem e, por consequência, nem o ser enviado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Embora todos os dons, como tais, sejam atribuídos ao Espírito Santo, por ser por essência o dom primeiro, como Amor, conforme dissemos (q. 38, a. 2), todavia, alguns dons, nas suas noções próprias, são atribuídos ao Filho por uma certa apropriação, a saber, a que pertence ao intelecto. E quanto a tais dons é que se atribui a missão ao Filho. Por onde, diz Agostinho, que o Filho é enviado a cada um invisivelmente, quando por cada um é conhecido e percebido.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A alma se conforma com Deus pela graça. Por onde, se alguma Pessoa divina for enviada a alguém, pela graça, necessariamente esta há-se de assimilar com a Pessoa divina enviada, por algum dom da graça. E sendo o Espírito Santo amor, a alma com ele se assimila pelo dom da caridade. Por onde, relativamente ao dom da caridade é que se considera a missão do Espírito Santo. O Filho, porém, é o Verbo, não de qualquer modo, mas como espirador do Amor. Por isso diz Agostinho: O Verbo que pretendemos insinuar é conhecimento com amor. Logo, o Filho é enviado, não quanto a qualquer perfeição do intelecto, mas quanto a uma instrução do intelecto tal que nos faça prorromper nos afetos do amor, como diz a Escritura (Jo 6, 45): Todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu, e vem a mim. E noutro lugar (Sl 38, 4): Na minha meditação se encenderá fogo. Donde o dizer Agostinho sinaladamente, que o Filho é enviado àquele por quem é conhecido e percebido; pois a percepção significa uma notícia experimental. E essa é a que se chama propriamente sapiência, ou ciência saborosa, segundo a Escritura (Ecle 6, 23): A sapiência que faz o homem inteligente é segundo o nome que tem.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A missão importa a origem da Pessoa enviada e a inabitação em alguém pela graça, como dissemos (a. 1, 3). Se, pois, falamos da missão, quanto à origem, então a missão do Filho se distingue da do Espírito Santo, assim como a geração se distingue da processão. Se porém quanto ao efeito da graça, então as duas missões se comunicam radicalmente pela graça. Mas se distinguem pelos efeitos da graça, que são a iluminação do intelecto e a ardência do afeto. Por onde, é manifesto que uma pode existir sem a outra, porque nenhuma existe sem a graça santificante; nem uma pessoa se separa de outra.

ART. VI. – SE A MISSÃO INVISÍVEL SE REALIZA EM TODOS OS QUE PARTICIPAM DA GRAÇA


(I Sent. Dist., XV, q. 5, a. 1)

O sexto discute-se assim. – Parece que a missão invisível não se realiza em todos os que participam da graça.

1. – Pois, os Patriarcas do Testamento Velho foram participantes da graça. Ora, não parece que a eles lhes fosse feita a missão invisível, pois, diz a Escritura (Jo 7, 39): Ainda o Espírito não fora dado, por não ter sido ainda glorificado Jesus. Logo, a missão invisível não se realiza em todos os participantes da graça.

2. Demais. – O progresso na virtude não é possível senão pela graça. Ora, a missão invisível não parece fundada no progresso da virtude, que é contínuo. Pois a caridade, ou sempre aproveitando ou sempre faltando, a missão seria contínua. Logo, a missão invisível não se realiza em todos os que participam da graça.

3. Demais. – Cristo e os bem-aventurados têm a plenitude da graça. Ora, parece que neles não se realiza a missão, porque esta supõe uma distancia. – Ora, Cristo, enquanto homem, e todos os bem-aventurados estão unidos perfeitamente a Deus. Logo, nem em todos os que têm a graça se realiza a missão invisível.

4. Demais. – Os sacramentos da nova lei contem a graça, e todavia não se diz que neles se realiza a missão invisível. Logo, nem em todos os que tem a graça se realiza a missão invisível.

Mas, em contrário, segundo diz Agostinho, a missão invisível se realiza para santificar a criatura. Ora, toda a criatura que tem a graça está santificada. Logo, em toda criatura nessas condições se realiza a missão invisível.

SOLUÇÃO. – Como dissemos (a. 1), a missão, por essência, importa em vir a estar o enviado onde antes não estava, como se dá no domínio das coisas criadas; ou estar onde antes já estivera, mas de certo modo, no sentido em que a missão é atribuída às Pessoas divinas. E assim, naquele em que se realiza a missão devemos considerar duas coisas, a saber: a inabitação da graça e uma certa invocação provocada pela graça. Por onde, naqueles em quem se encontra uma e outra se realiza a missão invisível.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A missão invisível foi realizada nos Patriarcas do Testamento Velho. Por isso, diz Agostinho que, enquanto enviado invisivelmente, o Filho está nos homens ou com os homens. O que já se realizou com os Patriarcas e Profetas. Logo, quando a Escritura diz: Ainda o Espírito não fora dado – entende-se da dação feita visivelmente no dia de Pentecostes.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Mesmo relativamente ao progresso da virtude ou ao aumento da graça, realiza-se a missão invisível. Por isso, diz Agostinho que a pessoa a quem é enviado o Filho essa o conhece e percebe quanto ele pode ser conhecido pela apreensão de quem progride, ou da alma racional perfeita em Deus. Contudo a missão invisível se considera, precipuamente, em relação ao aumento da graça pelo qual praticamos atos que antes não praticávamos; ou entramos em algum novo estado de graça. P. ex., quando alguém, pela graça, faz milagres ou profetiza, ou quando, pelo fervor da caridade, se expõe ao martírio ou renuncia às coisas que possui ou pratica qualquer obra difícil.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A missão invisível realiza-se nos bem-aventurados, no princípio mesmo da bem-aventurança. Depois porém, neles se realiza a missão invisível; não quanto à intensidade da graça, mas por lhes serem revelados alguns mistérios de novo, o que se dará até o dia do juízo. E esse aumento depende da extensão da graça que se estende a muitas coisas. Porém em Cristo realizou-se a missão invisível desde o momento da sua concepção, mas não depois; porque, desde o princípio da sua concepção foi cheio de toda sabedoria e graça.

RESPOSTA À QUARTA. – A graça está nos sacramentos da nova lei instrumentalmente, assim como a forma do artificiado está nos instrumentos da arte, pela influência que decorre do agente para o paciente. Ora, a missão não se considera realizada senão em relação ao termo. Por onde, a missão da divina Pessoa não se realiza nos sacramentos, mas nos que, pelos sacramentos, recebem a graça.

ART. VII. – SE CONVÉM AO ESPÍRITO SANTO SER ENVIADO VISIVELMENTE


(I Sent., dist. XVI, a. 1)

O sétimo discute-se assim. – Parece que não convém ao Espírito Santo ser visivelmente enviado.

1. – Pois, o Filho, enquanto visivelmente mandado ao mundo, é considerado menor que o Pai. Ora, nunca se lê na Escritura que o Espírito Santo seja menos que o Pai. Logo, ao Espírito Santo não convém ser enviado.

2. Demais. – A missão visível é considerada relativamente a alguma criatura tomada como visível; assim, a missão do Filho, segundo a carne. Ora, o Espírito Santo não assumiu nenhuma criatura visível. Por onde, não pode ser considerado como estando numas criaturas visíveis de modo diferente por que está em outras; senão talvez por um sinal, como está também nos sacramentos e em todas as figuras da Lei. Logo, o Espírito Santo não é enviado visivelmente; ou devemos dizer que a sua missão visível é considerada segundo todos esses modos referidos.

3. Demais. – Qualquer criatura visível é um efeito demonstrativo de toda a Trindade. Logo, por tais criaturas visíveis, o Espírito Santo não é mais enviado, que outra Pessoa.

4. Demais. – O Filho foi enviado visivelmente segundo a mais digna das criaturas visíveis, a saber, segundo a natureza humana. Se, pois, o Espírito Santo é enviado visivelmente, devia tê-lo sido segundo algumas criaturas racionais.

5. Demais. – As coisas que Deus realiza visivelmente, realiza-o pelo ministério dos anjos, como diz Agostinho. Por onde, as formas que vieram a existir visivelmente, o devem à ação dos anjos; e assim, os próprios anjos é que são enviados e não o Espírito Santo.

6. Demais. – Se o Espírito Santo é enviado visivelmente, isso não pode ser senão para manifestar a missão invisível; pois, as coisas invisíveis se manifestam pelas visíveis. Logo, a quem não foi feita a missão invisível também não deve ser feita a visível; e a todos aos quais foi feita a invisível, quer em o novo quer no velho Testamento, também deve sê-lo a visível, o que evidentemente é falso. Logo, o Espírito Santo não é enviado invisivelmente. Mas, em contrário, diz Escritura (Mt 3, 16) que o Espírito Santo desceu sobre o Senhor batizado, em forma de pomba.

SOLUÇÃO. – Deus provê a todos os seres, ao modo de cada um. Ora, é conatural ao homem ser levado pelas coisas visíveis às invisíveis, como resulta do que já foi dito (q. 12, a. 12). Por onde, é necessário que as coisas invisíveis de Deus ao homem sejam manifestadas pelas visíveis. Assim, pois como Deus, de certo modo, se revelou aos homens, ele próprio e as processões eternas das Pessoas, por meio de criaturas visíveis, e de certos indícios; assim foi conveniente que também as missões invisíveis das Pessoas divinas fossem manifestadas por meio de algumas criaturas visíveis. – Mas, de modo diferente são enviados o Filho e o Espírito Santo. Pois, a este enquanto procede como Amor, compete ser o dom da santificação; àquele, porém enquanto princípio do Espírito Santo, compete ser o autor dessa santificação. Por isso, o Filho é enviado visivelmente como Autor da santificação, e o Espírito Santo, como indicio dela.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O Filho assumiu a criatura visível, com que se manifestou, na unidade da pessoa, de modo a poder ser atribuído ao Filho de Deus o que o for a essa criatura. E assim, em razão da natureza assumida, o Filho é considerado menor que o Pai. Mas o Espírito Santo não assumiu nenhuma criatura visível com que se manifestasse na unidade da pessoa, de modo a ser dele predicado o que a ela lhe convém. Por isso não pode ser considerado menor que o Pai, por causa de nenhuma criatura visível.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A missão visível do Espírito Santo não é considerada relativamente à visão imaginária, que é uma visão profética. Pois, diz Agostinho: A visão profética não se manifesta aos olhos corpóreos, por formas corpóreas mas ao espírito, por imagens espirituais dos corpos. Porém a tal pomba e o fogo, com os olhos os viram todos os que viram. Demais, nem ao Espírito Santo se aplicam tais figuras, como ao Filho, do qual disse a Escritura (1 Cor 10, 4): Cristo porém era pedra. Pois essa pedra já existia como criatura e, para exprimir a ação, foi tomada pelo nome de Cristo, o qual ela significava. Mas a referida pomba e o fogo vieram à existência de súbito, para significarem expressamente o que significam. Pois, parecem-me semelhantes àquela chama, que apareceu na sarça a Moisés, e àquela coluna, que era seguida pelo povo no deserto, e aos relâmpagos e trovões, que prorromperam enquanto a lei era dada no monte. Porque a figura corporal dessas coisas veio à existência para significar e predicar uma determinada realidade. – E assim é claro, que a missão visível não é considerada relativamente às visões proféticas, que eram figuradas e não, corpóreas; nem aos sinais sacramentais do velho e do novo Testamento, pelos quais certas coisas já preexistentes são assumidas para significarem outras coisas. Mas a Escritura diz, que o Espírito Santo é enviado visivelmente, enquanto revelado por certas criaturas, como por sinais para isso adrede preparados.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Embora essas criaturas visíveis as criasse toda a Trindade, todavia foram feitas para revelar especialmente esta ou aquela pessoa. Pois, assim como por diversos nomes é designado o Pai, o Filho e o Espírito Santo; assim também puderam ser significados por diversas coisas, embora entre eles não haja nenhuma separação ou diversidade.

RESPOSTA À QUARTA. – Era necessário declarar a pessoa do Filho como o autor da santificação, conforme dissemos. Por onde e necessariamente, a missão visível do Filho havia de realizar-se pela natureza racional, à qual convém o agir e pode convir o ser santificada. Indício porém da santificação podia ser qualquer outra criatura. Nem era necessário que a criatura visível formada para esse fim fosse assumida pelo Espírito Santo na unidade de pessoa; pois que ele não a assumiria para realizar nada, mas somente para indicar. E por isso também não devia durar mais que o tempo necessário para realizar os seus desígnios.

RESPOSTA À QUINTA. – Essas criaturas visíveis foram formadas pelo ministério dos anjos; não contudo para significarem a pessoa do anjo, mas a do Espírito Santo. Pois, por estar o Espírito santo nessas criaturas visíveis como o assinalado, no sinal; por isso dizem que, por elas, o Espírito Santo é enviado visivelmente, e não, o anjo.

RESPOSTA À SEXTA. – Não é necessário que a missão visível seja sempre manifestada exteriormente por algum sinal visível; mas, como diz a Escritura (1 Cor 12, 7) – a cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito seu, i. é, da Igreja. Cuja utilidade está em, por sinais visíveis, confirmar-se e propagar-se a fé. O que certo e principalmente foi feito por Cristo e pelos Apóstolos, segundo a Escritura (Hb 2, 3): A qual tendo começado a ser anunciada pelo Senhor, foi depois confirmada entre nós pelos que a ouviram. Por isso foi necessária a missão visível do Espírito Santo a Cristo, aos Apóstolos e aos outros primitivos santos, nos quais, de algum modo, estava fundada a Igreja; de modo, porém, que a missão visível feita a Cristo declarasse a missão invisível, missão esta a ele feita, não quando nasceu, mas no princípio da sua concepção. Mas a missão visível foi feita a Cristo, no batismo, sob a forma de pomba, animal fecundo, para mostrar a autoridade de Cristo para dar a graça, pela regeneração espiritual. Por isso tonitruou a voz do Pai (Mt 3, 17) – Este é meu filho amado – para que, pela semelhança com o Unigênito, os outros se regenerassem. Na transfiguração, sob a figura de nuvem lúcida, para mostrar a exuberância da doutrina; e por isso foi dito (Mt 17, 5): Ouvi-o.

Porém aos Apóstolos, sob a forma de assopro, para mostrar o poder do ministério no dispensar os sacramentos; por isso foi-lhes dito (Jo 20, 23): Aos que vós perdoardes os pecados serão perdoados. Sob a figura de línguas de fogo ainda, para significar o dever de ensinarem; por isso, foi dito (At 2, 4) que começaram a falar em várias línguas. Enfim, aos Patriarcas do velho Testamento não foi necessária a missão visível do Espírito Santo porque a missão visível do Filho tinha que se cumprir antes da do Espírito Santo; pois, este manifesta o Filho, como o Filho o Pai. Todavia, houve aparições visíveis das Pessoas divinas aos Patriarcas do velho Testamento, mas que se não podem chamar missões visíveis porque não foram feitas, segundo Agostinho, para designar a inabitação da divina Pessoa pela graça, senão para manifestar alguma outra coisa.

ART. VIII. – SE NENHUMA PESSOA É ENVIADA SENÃO POR AQUELA DA QUAL PROCEDE ETERNAMENTE


(I Sent., dist. XV, q. 3; De Pot., q. 10, a. 4, ad 14; Contra errores Graec, cap. XIV)

O oitavo discute-se assim. – Parece que nenhuma Pessoa divina senão por aquela da qual procede eternamente.

1. – Porque, como diz Agostinho, o Pai por ninguém é enviado porque de ninguém procede. Se pois uma Pessoa divina é enviada por outra, é necessário que dessa proceda.

2. Demais. – O mitente tem autoridade sobre o enviado. Mas, em relação à Pessoa divina, não pode haver autoridade senão pela origem. Logo, é necessário que a Pessoa enviada se origine da que envia.

3. Demais. – Se uma Pessoa divina pode ser enviada por outra, da qual não provém, nada impede dizer que o Espírito Santo é dado pelo homem, embora deste não provenha. O que vai contra Agostinho. Logo, uma Pessoa divina não é enviada senão por outra, da qual procede. Mas, em contrário, é que o Filho é enviado pelo Espírito Santo, segundo a Escritura (Is 48, 16): Agora o Senhor Deus me enviou e o seu Espírito. Ora, o Filho não procede do Espírito Santo. Logo, uma Pessoa divina é enviada por outra, da qual não procede.

SOLUÇÃO. – Há várias opiniões sobre esta matéria. Segundo uns, uma Pessoa divina não é enviada senão por outra, da qual procede eternamente. E deste modo, quando se diz, que o Filho de Deus foi enviado pelo Espírito Santo, isto se refere à natureza humana, em dependência da qual foi enviado para pregar. Agostinho, porém, diz que o Filho é enviado tanto por si como pelo Espírito Santo; e o Espírito Santo também é enviado por si e pelo Filho; assim, não é a qualquer Pessoa divina que convém ser enviada, mas somente à Pessoa existente por outra; enviar, porém, convém a qualquer Pessoa. Ora, ambas estas doutrinas encerram de algum modo a verdade. Porque quando se diz, que alguma Pessoa é enviada, com isso tanto se designa a própria Pessoa existente por outra, como o efeito visível ou invisível, no qual se funda a missão da Pessoa divina. Se, pois, o mitente é designado como princípio da Pessoa enviada, então não é qualquer pessoa que envia, mas somente aquela a que é próprio ser o princípio da outra pessoa. E assim, o Filho é enviado somente pelo Pai; o Espírito Santo, porém, pelo Pai e pelo Filho. Mas se a Pessoa mitente for entendida como o princípio do efeito no qual se funda a missão, nesse caso toda a Trindade envia a Pessoa enviada. Mas nem por isso o homem dá o Espírito Santo, pois ele não pode causar o efeito da graça.

Assim ficam claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A história do papado

A história do papado


Introdução
A História do papado gira em torno de todos os pontifices nome dado ao Bispo de Roma (Papa) que é o chefe supremo da Igreja Católica, tanto em seu papel espiritual e temporal. A doutrina católica sobre o papado é bíblica e decorre do primado de São Pedro entre os Apóstolos de Jesus. Como todas as doutrinas cristãs, desenvolveu-se ao longo dos séculos, mas não se afastou dos seus elementos essenciais, presentes na liderança do Apóstolo Pedro."

Pedro e o desenvolvimento do papado


O Apóstolo Pedro foi o fundador, junto com São Paulo, da Igreja de Roma (A Santa Sé), sendo o primeiro Bispo de Roma. Na Bíblia Sagrada Pedro afirma em I Pe 5, 13 que fundou "A [Igreja] que está em Babilônia", termo pejorativo para referir-se à Roma pagã. O Papa Pio XII iniciou as escavações arqueológicas na Basílica de São Pedro, em Roma, para determinar se o túmulo de São Pedro estava realmente lá, sendo que na celebração do Ano Santo em 1950, ele confirmou que o túmulo de São Pedro havia sido encontrado debaixo da basílica.
Hoje, os historiadores concordam que Pedro realmente viveu e morreu em Roma. Sua vida continua sendo objeto de investigação, mas o seu túmulo está localizado na Basílica de São Pedro no Vaticano, ao qual foi descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação.

Referências ao papado na Bíblia


Embora as origens históricas do papado e as circunstâncias da vida de Pedro em Roma não são totalmente documentadas, as afirmações bíblicas no Novo Testamento sobre Pedro nos dá uma imagem mais clara. Em todos os evangelhos do Novo Testamento, Pedro encabeça os apóstolos (Mt 10, 1-4; Mc 3, 16-19; Lc 6, 14-16; At 1,13); em alguns casos é dito "Pedro e aqueles que estavam com ele" (Lc 9, 32). Pedro era o primeiro que geralmente falava em nome dos apóstolos (Mt 18, 21; Mc 8, 29; Lc 12, 41; Jo 6, 69), e preside muitas cenas notáveis (Mt 14, 28-32; Mt 17, 24, Mc 10, 28). "Em cada Evangelho, ele é o primeiro discípulo, à ser chamado por Jesus."
O dogma e a tradição da Igreja ensinam que a instituição do papado foi feita por Jesus, conforme pode ser observado nas passagens do Evangelho de Mateus: "E eu te declaro: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra, será desligado nos céus" (Mt 16, 18-19). Em Mateus, a centralidade de Pedro não é apenas manifestada nesta citação. Depois da ressurreição, Jesus repete o seu mandato de Pedro (Jo, 21, 15), Lucas cita um mandato de Jesus a Pedro, pois ele devia "reforçar seus irmãos" (Lc, 22, 31).

50 Provas do Primado Petrino e do papado tiradas do Novo Testamento


A doutrina católica sobre o papado é bíblica e decorre do primado de São Pedro entre os Apóstolos.
Mt 16, 18: “E eu te digo, tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e os poderes da morte não prevalecerão contra ela”.
A pedra (em grego, petra) aqui mencionada é o próprio São Pedro e não a sua fé ou Jesus Cristo. Cristo não aparece aqui como a fundação, mas como o arquiteto que “constrói”. A Igreja é edificada, não sobre confissões, mas sobre confessores – pessoas vivas (ver, por exemplo, 1Pd 2, 5).

Hoje o consenso da grande maioria dos eruditos e comentadores bíblicos se encontra a favor da interpretação católica. Aqui é dito que São Pedro é a pedra de fundação da Igreja, a cabeça e o superior da família de Deus (vemos aí a “semente” da doutrina do papado). Além disso, a palavra “pedra” expressa uma metáfora análoga à usada por São Pedro para designar o Messias sofredor e desprezado (1Pd 2, 4-8; cf. Mt 21, 42). Sem uma fundação sólida qualquer casa desaba. São Pedro é o fundamento, mas não o fundador da Igreja; administrador, mas não o Senhor da Igreja. O Bom Pastor (Jo 10, 11) nos dá também outros pastores (Ef 4, 11).

Alguns protestantes objetam que o nome de Pedro em grego, petros, significa “pequena pedra”, e que, portanto, Cristo refere-se a si próprio como rocha fundamental da Igreja, petra, “grande pedra”. Tal objeção não se sustenta porque:
I – No grego koiné do NT as palavras petros e petra não possuem significados distintos [ver as seguintes fontes protestantes que confirmam este fato: Joseph H. Thayer, Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament (Peabody: Hendrickson, 1996), 507; D.A. Carson, "Matthew," in Frank E. Gaebelein, ed., The Expositor's Bible Commentary (Grand Rapids: Zondervan, 1984), vol. 8, 368].
II – A palavra grega para designar “pequena pedra” é lithos. Por exemplo, em Mt 4, 3, o demônio tenta o Senhor a operar um milagre transformando algumas pedras, lithoi, em pães; em Jo 10, 31, os judeus apanham pedras, lithoi, para apedrejar Jesus.
III – Jesus falava aramaico, não grego, e em aramaico ele usou a mesma palavra para designar Pedro e pedra: kefa (cfr. Jo 1, 42). Se o Senhor tencionasse chamar o Apóstolo de “pequena pedra”, teria usado o termo aramaico correspondente, evna.
IV – O evangelista usou petros enquanto forma masculina de petra, para evitar uma impropriedade de gênero, a designação de um sujeito masculino – o Apóstolo – com um nome feminino – petra.
V - Especialistas em grego reconhecem que petros = petra na sentença de Mt 16, 18. A sintaxe da frase não deixa lugar para dúvidas. Petros é o mesmo sujeito que é designado sob o nome de petra, ou seja, São Pedro. Mt 16, 19: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus…”
O “poder das chaves” tem a ver com a disciplina eclesiástica e a autoridade administrativa com respeito às exigências da fé, como em Is 22, 2 (cf. Is 9, 6; Jó 12, 14. Ap 3, 7). É deste poder que derivam o uso de censuras, a excomunhão, a absolvição, a disciplina batismal, a imposição de penitências e os poderes legislativos. No AT um mordomo, ou primeiro ministro, é o “maior da casa”, o homem que ficava acima da assembléia (Gn 41, 40; 43, 19; 44, 4; 1Rs 4, 6; 16, 9; 18, 3; 2Rs 10, 5; 15, 5; 18, 18; Is 22, 15.20-21).

Mt 16, 19: “…o que tu ligares sobre a terra será ligado no Céu, e o que desligares sobre a terra será desligado no Céu”.
“Ligar” e “desligar” eram termos técnicos usados pelos rabinos, que significavam “proibir” e “permitir” com referência à interpretação da Lei. Secundariamente significavam o poder de condenar ou absolver. Portanto, a São Pedro e a seus sucessores, os papas, foi dada a autoridade de estabelecer as leis para a doutrina e a vida, em virtude da Revelação e da assistência do Espírito Santo (Jo 16, 13), e de receber a obediência da Igreja. “Ligar” e “desligar” representam os poderes judiciais e legislativos do papa e do bispos (Mt 18, 17-18; Jo 20, 23). São Pedro, no entanto, é o único Apóstolo que recebeu esses poderes individualmente, o que o põe em lugar de preeminência no Colégio Apostólico.

O nome de Pedro ocorre em primeiro lugar em todas as listas dos Apóstolos (Mt 10, 2; Mc 3, 16; Lc 6, 14; At 1, 13). Mateus chega a chamá-lo de “primeiro” (10, 2). Judas Iscariotes é invariavelmente mencionado em último lugar.
Pedro é quase sempre mencionado primeiro, quando seu nome aparece junto de outros. Em um exemplo que contradiz esta regra (o único), Gl 2, 9, no qual “Cefas” é listado depois de Tiago e antes de João, Pedro aparece claramente em destaque, levando-se em conta o contexto do versículo (p. ex., 1, 18-19; 2, 7-8). Alguns códices registram variações nas quais Pedro aparece em primeiro lugar.
Apenas Pedro, entre todos os Apóstolos, recebe um novo nome, “pedra”, solenemente conferido (Jo 1, 42; Mt 16, 18).
Da mesma forma, Pedro é colocado por Jesus como o Pastor Chefe depois dele mesmo (Jo 21, 15-17) sobre a Igreja Universal, embora outros possuam um papel parecido mas subordinado (At 20, 28; 1Pd 5, 2).
Jesus ora apenas por Pedro, dentre todos os Apóstolos, para que a sua fé não desfaleça (Lc 22, 32).
Apenas Pedro, entre todos os Apóstolos, é exortado por Jesus: “fortalece teus irmãos” (Lc 22, 32). Pedro é o primeiro a confessar a divindade de Cristo (Mt 16, 16).
Apenas de Pedro se diz que recebeu conhecimento divino através de uma revelação especial (Mt 16, 17).
Pedro é considerado pelos Judeus (At 4, 1-13) como o líder e porta-voz dos cristãos.
Pedro é considerado pelo povo da mesma forma (At 2, 37-41; 5, 15).
Jesus Cristo paga o imposto para si mesmo e para Pedro (Mt 17, 24-27).
Cristo ensina da barca de Pedro, e a pesca milagrosa que se segue (Lc 5, 1-11) é talvez uma metáfora sobre o papa como “pescador de homens” (cf. Mt 4, 19).
Pedro foi o primeiro Apóstolo a partir para, e a entrar em, o sepulcro vazio (Lc 24, 12; Jo 20, 6).
Um anjo destaca Pedro entre os discípulos como líder e representante dos Apóstolos (Mc 16, 7).
Pedro lidera os Apóstolos na pesca (Jo 21, 2-3.11). A “barca” de Pedro tem sido considerada pelos católicos como uma figura da Igreja, com Pedro no leme.
Apenas Pedro anda sobre as águas para encontrar-se com Jesus (Jo 21, 7).
As palavras de Pedro são as primeiras a serem registradas e as mais importantes no Cenáculo, antes de Pentecostes (At 1, 15-22).
Pedro toma a liderança na convocação para a escolha de um substituto para Judas (At 1, 22).
Pedro é a primeira pessoa a falar (e a única registrada) depois de Pentecostes, de modo que ele foi o primeiro cristão a “pregar o Evangelho” no tempo da Igreja (At 2, 14-36).
Pedro opera o primeiro milagre do tempo da Igreja, curando um aleijado de nascença (At 3, 6-12).
Pedro lança o primeiro anátema (sobre Ananias e Safira), enfaticamente confirmado por Deus (At 5, 2-11)!
A sombra de Pedro opera milagres (At 5, 15).
Pedro é o primeiro depois de Cristo a ressuscitar uma pessoa morta (At 9, 40).
Um anjo instrui Cornélio a procurar Pedro para conhecer a fé cristã (At 10, 1-6).
Pedro é o primeiro a receber os gentios, após uma revelação de Deus (At 10, 9-48).
Pedro ensina aos outros Apóstolos sobre a catolicidade (universalidade) da Igreja (At 11, 5-17).
Pedro é o objeto da primeira intervenção divina em favor de um indivíduo no tempo da Igreja (um anjo o liberta da prisão – At 12, 1-17).
A Igreja inteira ora por Pedro enquanto o mesmo está preso (At 12, 5).
Pedro preside e abre o primeiro Concílio da História da Igreja, e lança vários princípios que serão adotados por todos os cristãos (At 15, 7-11).
Paulo distingue as aparições do Senhor a Pedro após a ressurreição das aparições realizadas diante dos demais Apóstolos (1Cor 15, 4-8). Os dois discípulos na estrada de Emaús fazem a mesma distinção (Lc 24, 34), na ocasião mencionando apenas Pedro (“Simão”), mesmo tendo eles mesmos acabado de ver o Cristo ressuscitado (Lc 24, 33).
Pedro é muitas vezes distinguido entre os apóstolos (Mc 1, 36; Lc 9, 28.32; At 2, 37; At 5, 29; 1Cor 9, 5).
Pedro é quase sempre o porta-voz dos outros Apóstolos, especialmente nos momentos mais importantes (Mc 8, 29; Mt 18, 21; Lc 9, 5; Lc 12, 41; Jo 6, 67ss).
O nome de Pedro é sempre o primeiro a ser listado dentro do “círculo íntimo” dos discípulos (Pedro, Tiago e João – Mt 17,1; Mt 26,37.40; Mc 5,37; Mc 14,37).
Pedro é muitas vezes figura central junto a Jesus em cenas dramáticas do Evangelho, como a caminhada sobre as águas (Mt 14,28-32; Lc 5,1ss; Mc 10,28; Mt 17,24ss).
Pedro é o primeiro a reconhecer e refutar a heresia, contra Simão o Mago (At 8,14-24).
O nome de Pedro é mais citado do que todos os discípulos juntos: 191 vezes (162 como Pedro ou Simão Pedro, 23 como Simão e 6 como Cefas). João é o segundo colocado com apenas 48 referências. Pedro está presente em 50% das vezes em que João é mencionado na Bíblia! O arcebispo Fulton Sheen calculou que todos os outros discípulos combinados somam 130 referências. Se isto é correto, 60% das referências a discípulos são referências a São Pedro.
O discurso de Pedro em Pentecostes (At 2,14-41) contém uma interpretação da Escritura feita com autoridade, uma decisão doutrinal e um decreto disciplinar referente aos membros da “Casa de Israel” (2, 36) – um exemplo do poder de “ligar e desligar”.
Pedro foi o primeiro “carismático”, tendo julgado com autoridade a primeira manifestação do dom de línguas como genuína (At 2,14-21).
Pedro é o primeiro a pregar o arrependimento cristão e o batismo (At 2, 38).
Pedro (presume-se) esteve à frente do primeiro batismo em massa registrado (At 2, 41).
Pedro ordenou o batismo do primeiro cristão vindo da gentilidade (At 10, 44-48).
Pedro foi o primeiro missionário itinerante, e o primeiro a exercer o que seria chamado de “visita às igrejas” (At 9, 32-38.43). Paulo pregou em Damasco imediatamente após a sua conversão (At 9, 20), mas não tinha viajado até aquela cidade com esse propósito (Deus alterou seus planos!). Suas jornadas missionárias começam apenas em At 13, 2.
Paulo partiu para Jerusalém especialmente para ver Pedro, por quinze dias, no começo de seu ministério (Gl 1, 18), e foi encarregado por Pedro, Tiago e João (Gl 2, 9) de pregar para os gentios.
Pedro age (fortemente indicado) como o bispo/pastor chefe da Igreja (1Pd 5, 1), uma vez que ele exorta todos os demais bispos, ou “anciãos”.
Pedro interpreta profecia (2Pd 1, 16-21).
Pedro corrige aqueles que interpretam mal os escritos paulinos (2Pd 3, 15-16).
Pedro escreve sua primeira epístola da cidade de Roma, de acordo com muitos estudiosos, sendo seu bispo, e como bispo universal (ou papa) da Igreja primitiva. “Babilônia” (1Pd 5, 13) é uma espécie de codinome para Roma.
Em conclusão, é necessário muita credulidade para achar que Deus colocaria São Pedro em tal posição de preeminência na Bíblia sem que esta preeminência tenha algum significado ou importância para a história cristã posterior; em particular para o governo da Igreja. A doutrina sobre o papado é, de longe, a que melhor se ajusta ao dado bíblico. Considerando a Tradição e a História, a conclusão por sua veracidade é inescapável.

Traduzido e adaptado do inglês por Ewerton Wagner Santos Caetano. “50 NEW TESTAMENT PROOFS FOR PETRINE PRIMACY AND THE PAPACY”, Copyright 1994 by Dave Armstrong. All rights reserved.

Nunca será possível entender a importância da figura do Bispo de Roma, sucessor do Apóstolo Pedro, sem previamente se compreender quem foi aquele homem chamado Simão, filho de Jonas, e qual foi o papel que Nosso Senhor Jesus Cristo quis que desempenhasse em sua Igreja. No Evangelho de João, lemos como ocorreu o primeiro encontro entre Jesus e Simão:
“André, irmão de Simão Pedro, era um daqueles que havia ouvido a João e resolvera seguir a Jesus. Ele falou primeiramente com seu irmão Simão e lhe disse: ‘Encontramos o Messias’ (que traduzido significa ‘o Cristo’). E o levou até Jesus. E olhando-o, Jesus disse-lhe: ‘Tu és Simão, filho de Jonas; serás chamado ‘Cefas” (que quer dizer ‘Pedro’)” (João 1, 40-42).

Em um primeiro momento, ninguém diria que estas primeiras palavras de Jesus a Pedro tivessem uma importância além da de estabelecer um primeiro contato entre ambos; porém, sem dúvida alguma, nelas encontramos um elemento essencial para saber quem foi o Apóstolo. Efetivamente, Cristo anuncia a Simão que ele receberá um novo nome, pelo qual será conhecido: Cefas (=Pedro). Mas por que tal mudança? Provavelmente encontraremos a resposta no Antigo Testamento:
“Então Abrão se prostrou sobre o seu rosto e Deus falou com ele, dizendo: ‘Eis o pacto que faço contigo: serás pai de uma multidão de povos. E teu nome não será mais Abrão, mas serás chamado de Abraão, porque te coloquei como pai de uma multidão de povos” (Gênese 17, 3-5).
“E o varão lhe disse: ‘Qual é o teu nome?’ E ele respondeu: ‘Jacó’. E o varão lhe disse: ‘Teu nome não será mais Jacó, mas Israel, porque lutaste contra Deus e os homens, e venceste’” (Gênese 32, 27-28).
“E Deus lhe disse: ‘Teu nome é Jacó, mas não mais serás chamado de Jacó; Israel será o teu nome’. E chamou seu nome de Israel. E Deus também lhe disse: ‘Eu sou o Deus todo-poderoso: crescei e multiplicai; uma nação e um conjunto de nações procederão de ti; e reis sairão de ti. A terra que dei a Abraão e a Isaac, a darei a ti; e à tua descendência darei a terra depois de ti’” (Gênese 35, 10-12).
Toda vez que Deus altera o nome de alguém, o faz por um motivo bem particular. Ao estabelecer o pacto com Abrão, que significa “pai enaltecido”, o renomeia para Abraão, que significa “pai de uma numerosa multidão”. Tal mudança de nome está totalmente relacionada com o próprio pacto que Deus estabelece com o patriarca. O mesmo ocorre com Jacó, a quem um personagem misterioso que havia lutado com ele o adverte que seu nome passará a ser Israel, que significa “Deus luta” ou “aquele que luta com Deus”, o que é confirmado pelo próprio Senhor quando reafirma o pacto que já houvera feito anteriormente com seu avô Abraão.

Existem outros exemplos do Antigo Testamento em que podemos comprovar que o nome de uma pessoa era intimamente relacionado com certa circunstância da sua vida. Não foi em vão, portanto, que o anjo do Senhor anunciou a José que o fruto do ventre de Maria fôra gerado pelo Espírito Santo, acrescentando ao mesmo tempo que o menino deveria se chamar “Jesus”, que significa “Javé salva” (tal nome definia perfeitamente a missão do Senhor, que haveria de nascer do seio da Virgem Maria).

Considerando todos estes antecedentes, não podemos ignorar o fato de que Jesus, ao estabelecer um novo nome a Simão, logo na primeira vez em que se encontra com ele, estava demonstrando uma qualidade essencial do próprio Simão.

Porém, não seremos nós que o diremos; deixemos que o próprio Senhor nos diga quem é Pedro e quais são os elementos distintivos do seu ministério. Analisemos cada um dos versículos do texto de Mateus 16,13-19:

“Vindo Jesus à região da Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos, dizendo: ‘Quem os homens dizem que é o Filho do Homem?’ Eles disseram: ‘Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; e outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas’” (vv.13-14).
Jesus sabia que havia um grande número de especulações acerca da sua identidade, fato este também de total conhecimento dos seus discípulos. Em meio a tanta confusão, o Senhor lhes faz uma pergunta bastante interessante:
“E disse-lhes: ‘E vós? Quem dizeis que eu sou?’” (v.15).
Ora, nem sempre o que cremos acerca de alguém corresponde ao que é realmente essa pessoa. Principalmente quando essa pessoa é o próprio Deus. Vivemos hoje uma situação semelhante àqueles tempos. Os homens especulam muito acerca da verdadeira identidade de Cristo: uns dizem que foi somente um bom mestre; outros, que foi um iluminado que fracassou; outros crêem que foi um guru palestino; outros ainda opinam que foi um extraterrestre; e muitos também o ignoram por completo. Porém, mais uma vez, o que é realmente importante é que nós, seus discípulos, podemos responder à pergunta: “Quem dizeis que eu sou?”. Ora, que aqueles que não conhecem verdadeiramente a Cristo se equivoquem sobre a sua real identidade, até certo ponto é natural; entretanto, nós não podemos nos equivocar. PEDRO NÃO SE EQUIVOCOU:

“Respondendo Simão Pedro, disse: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’” (v.17).
Eis aí um PONTO FINAL sobre todas as especulações! Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo. Pedro o disse e a questão está encerrada. Pedro fala em nome de todos, já que a pergunta foi dirigida a todos. Em Pedro está a resposta da Igreja à pergunta mais importante que Cristo podia fazer: a pergunta sobre a sua verdadeira identidade! Mas de onde Pedro tirou a sua resposta? Da sua capacidade intelectual? Do seu potencial humano para compreender a verdade sobre Jesus? Não, de algo bem além:

“Então Jesus lhe respondeu: ‘Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque isto não te foi revelado pela carne ou pelo sangue, mas por meu Pai que está nos céus’” (v.18).
Simão soube – e com ele, a Igreja – quem é Jesus por revelação direta de Deus Pai. Não lhe foi revelado por outros homens, mas por Deus. Já sabemos, então, quem é Jesus. Jesus é o Messias, isto é, Jesus Cristo (pois Messias = Cristo). Agora escutemos bem quem é na verdade esse tal Simão, filho de Jonas:

“‘E eu também te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Hades não prevalecerão contra ela’” (v.19).
Reflitamos agora por um instante sobre o contexto em que o Senhor diz estas palavras. Simão acaba de declarar quem é Jesus. Cabe agora a Jesus nos dizer quem é o Apóstolo. Já não o chama de Simão, mas de Pedro. Simão havia dito a Jesus: “Tu és Cristo”; e Cristo responde a Simão: “E tu és Pedro”. Da mesma forma como não podemos separar o nome de Cristo e seu significado da pessoa de Jesus, também não podemos separar o nome de Pedro e seu significado da pessoa de Simão. Jesus é o Messias e Simão é a Pedra. E é justamente nesse contexto que Cristo diz: “e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Quem é o Cristo? Jesus Cristo. Quem é a pedra sobre a qual Jesus edifica a sua Igreja? A quem foi dado o nome de pedra? A Simão, Pedro.

Muito se tem especulado sobre isto: a pedra é o próprio Pedro ou a sua declaração [de fé] acerca de Cristo? Pelo contexto verificamos que os versículos estão falando de PESSOAS, não de idéias. Trata-se de saber quem é Jesus e de saber quem Jesus diz que Simão é. Uma vez determinado quem é Jesus e quem é Pedro, Jesus edifica a sua Igreja. E nem a Igreja se edifica sem a verdade acerca de Cristo (declarada por Pedro), nem a Igreja se edifica sem a verdade acerca de Pedro (declarada por Cristo).

E é essa Igreja, a verdadeira, a que conhece e confessa quem é Cristo e quem é Pedro, aquela sobre a qual não prevalecerão as portas do Hades [=morte]!

Fonte: Veritatis Splendor

O diálogo a seguir ilustra muito bem um debate entre um católico e um protestante quando este argumenta que a “Pedra” citada por Jesus em Mt 16,18 jamais poderia referir-se a Pedro, mas sim ao próprio Jesus, uma vez que as Sagradas Escrituras em muitas passagens identifica Jesus como a “rocha”, a “pedra angular”.

Antes de apresentar o diálogo, a Barca de Jesus observa que embora na maioria das passagens bíblicas “pedra” ou “rocha” realmente se refira a Jesus, existem exceções. O próprio Jesus que disse ser a “Luz do Mundo” (Jo 8, 12) disse aos apóstolos que também eles deveriam ser “Luz do Mundo” (Mt 5, 13). Além da passagem de Mt 16, 18 onde a “pedra” referida não se trata de Jesus, como veremos claramente no diálogo abaixo, temos também, por exemplo, Is 51, 1-2 (a “pedra” é Abraão) e 1Pd 2, 4-5 (“pedras vivas” é Jesus e também são os cristãos).

O fato de Jesus aplicar a Pedro uma figura que a Bíblia exaustivamente aplica a Jesus, bem mostra a intenção de Jesus em fazer de Pedro um representante de Cristo na terra. O que, por sinal, Ele confirmou explicitamente ao dar autoridade a Pedro não apenas de ligar e desligar na terra, mas também no Céu. Vamos, então, ao diálogo:

Protestante:

Em grego, a palavra para pedra é petra, que significa uma rocha grande e maciça. A palavra usada como nome para Simão, por sua vez, é petros, que significa uma pedra pequena, uma pedrinha.

Católico:

Na verdade, todo este discurso é falso. Como sabem os conhecedores de grego (mesmo os não católicos), as palavras petros e petra eram sinônimos no grego do primeiro século. Elas significaram “pequena pedra” e “grande rocha” em uma velha poesia grega, séculos antes da vinda de Cristo, mas esta distinção já havia desaparecido no tempo em que o Evangelho de São Mateus foi traduzido para o grego. A diferença de significados existe, apenas, no grego ático, mas o NT foi escrito em grego Koiné – um dialeto totalmente diferente. E, no grego koiné, tanto petros quanto petra significam “rocha”. Se Jesus quisesse chamar Simão de “pedrinha”, usaria o termo lithos. (para a admissão deste fato por um estudioso protestante, veja D. Carson, The expositors Bible Commentary [Grand Rapids: Zondervan, 1984], Frank E. Gaebelein, ed., 8: 368).

Porém, ignorando a explicação, insiste o protestante:

Vocês, católicos, por desconhecerem o grego, pensam que Jesus comparava Pedro à rocha. Na verdade, é justamente o contrário. Ele os contrastava. De um lado, a rocha sobre a qual a Igreja seria construída: o próprio Jesus (“e sobre esta PETRA edificarei a Minha Igreja”). De outro, esta mera pedrinha (“Simão tu és PETROS”). Jesus queria dizer que ele mesmo seria o fundamento da Igreja, e que Simão não estava sequer remotamente qualificado para isto.

Católico:

Concordo que devemos ir do português para o grego. Mas, com certeza, você concordará que, igualmente, devemos ir do grego para o aramaico. Como você sabe, esta foi a língua falada por Jesus, pelos apóstolos e por todos os judeus da Palestina. Era a língua corrente da região.

Muitos, talvez a maioria, soubessem grego, pois esta era a língua franca do Mediterrâneo. A língua da cultura e do comércio. A maioria dos livros do NT foi escrita em grego, pois não visavam apenas os cristãos da Palestina, mas de outros lugares como Roma, Alexandria e Antioquia, onde o aramaico não era falado.

Sabemos que Jesus falava aramaico devido a algumas de suas palavras que nos foram preservadas pelos Evangelhos. Veja Mt 27, 46, onde ele diz na cruz, “Eli, Eli, Lama Sabachtani”. Isto não é grego, mas aramaico, e significa, “meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”

E tem mais: nas epístolas gregas de S. Paulo (por 4 vezes em Gálatas e outras 4 vezes em 1Coríntios), preservou-se a forma aramaica do novo nome de Simão. Em nossas bíblias, aparece como Cefas. Isto não é grego, mas uma transliteração do aramaico Kepha (traduzido por Kephas na forma helenística).

E o que significa Kepha? Uma pedra grande e maciça, o mesmíssimo que petra. A palavra aramaica para uma pequena pedra ou pedrinha é evna. O que Jesus disse a Simão em Mt 16, 18 foi “tu és Kepha e sobre esta kepha construirei minha igreja.”

Quando se conhece o que Jesus disse em aramaico, percebe-se que ele comparava Simão à rocha; não os estava contrastando. Podemos ver isto, vividamente, em algumas versões modernas da bíblia em inglês, nas quais este versículo é traduzido da seguinte forma: ‘You are Rock, and upon this rock I will build my church’. Em francês, sempre se usou apenas pierre tanto para o novo nome de Simão, quanto para a rocha.

Protestante:

Se kepha significa petra, porque a versão grega não traz “tu és Petra e sobre esta petra edificarei a minha Igreja”? Por que, para o novo nome de Simão, Mateus usa o grego Petros que possui um significado diferente do petra?

Católico:

Porque não havia escolha. Grego e aramaico têm diferentes estruturas gramaticais. Em aramaico, pode-se usar kepha nas duas partes de Mt 16, 18. Em grego, encontramos um problema derivado do fato de que, nesta língua, os substantivos possuem terminações diferentes para cada gênero.

Existem substantivos femininos, masculinos e neutros. A palavra grega petra é feminina. Pode-se usá-la na segunda parte do texto sem problemas. Mas não se pode usá-la como o novo nome de Simão, porque não se pode dar, a um homem, um nome feminino. Há que se masculinizar a terminação do nome. Fazendo-o, temos Petros, palavra já existente e que também significava rocha. (Obs. da Barca de Jesus: Estrutura semelhante ocorre na língua portuguesa: Pedro e pedra.)

Por certo, é uma tradução imperfeita do aramaico; perdeu-se parte do jogo de palavras. Mas, em grego, era o melhor que poderia ser feito.

Além da evidência gramatical, a estrutura da narração não permite uma diminuição do papel de Pedro na Igreja. Veja a forma na qual se estruturou o texto de Mt 16, 15-19. Jesus não diz: “Bendito és tu, Simão. Pois não foi nem a carne nem o sangue que te revelou este mistério, mas meu Pai, que está nos céus. Por isto, eu te digo: és uma pedrinha insignificante, e sobre a rocha edificarei a minha Igreja. … Eu te darei as chaves do reino dos céus.”

Ao contrário, Jesus abençoa Pedro triplamente, inclusive com o dom das chaves do reino, mas não mina a sua autoridade. Isto seria contrariar o contexto. Jesus coloca Pedro como uma forma de comandante ou primeiro ministro abaixo do Rei dos Reis, dando-lhe as chaves do Reino. Como em Is 22, 22, os reis, no AT, apontavam um comandante para os servir em posição de grande autoridade, para governar sobre os habitantes do reino. Jesus cita quase que verbalmente esta passagem de Isaías, o que torna claríssimo aquilo que Ele tinha em mente. Ele elevou Pedro como a figura de um pai na família dos cristãos (Is 22, 21), para guiar o rebanho (Jo 21, 15-17). Esta autoridade era passada de um homem para outro através dos tempos pela entrega das chaves, que se usavam sobre os ombros em sinal de autoridade. Da mesma forma, a autoridade de Pedro foi transmitida, nestes dois mil anos, através do papado.

Igreja Primitiva (30 - 325 d.C.)
No início da história do cristianismo, cinco cidades surgiram como importantes centros desta religião: Roma, Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. Desde o século I Roma ocupou o primeiro lugar como centro cristão. Em 107 Santo Inácio de Antioquia diz que Roma "preside a irmandade de amor" ("prokathemene tes agapes"), ou seja, preside a Igreja. Também nos últimos anos do século I d.C, o Bispo de Roma Clemente I usou sua autoridade para intervir nos assuntos de Corinto para ajudar a resolver suas disputas internas, afirmando que estava "falando em nome do Espírito Santo", embora nessa época em Éfeso ainda vivesse o apóstolo João, e outras comunidades possuíssem relações mais frequentes e fáceis com Corinto. Em diversas outras situações na Igreja Primitiva o Bispo de Roma interveio em outras comunidades para ajudar a resolver conflitos. Porém o poder do Bispo de Roma nesta época era apenas espiritual.
Mais tarde, no século II e III, houve mais manifestações da autoridade de Roma. Em 189, Ireneu de Lyon afirma em Contra as heresias: "[A Igreja de Roma] em razão de sua poderosa autoridade de fundação, que deve necessariamente concordar toda Igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, (…) conservou a tradição que vem dos apóstolos". E, em 195 d.C, o Bispo de Roma Vítor I, ameaça de excomunhão os bispos que continuarem praticando o Quartodecimanismo (o costume de celebrar-se a Páscoa no início da véspera do 14º dia de Nissan).
Não se sabe exatamente quando o termo "Pontifex" ou "Pontífice" para referir-se ao papa entrou em uso (o termo é utilizado na Bíblia para descrever sacerdotes (Hebreus 5, 1-4). No cristianismo primitivo, o título de "Pontifex" parece ter sido aplicado para qualquer bispo, ainda em 220, Tertuliano utilizou o termo para referir-se ao papa Calixto I, chamando-o também de "bispo dos bispos", embora Tertuliano utilizou os títulos de maneira irônica, pois era inimigo de Calixto na questão das penitências, sua citação indica que os demais cristãos já o usavam.
Em 251 cristãos do Norte da África que aderiram ao Antipapa Novaciano, que desejava substituir o Papa Cornélio, mas que voltariam posteriormente à obedecer Cornélio, falariam:
"Sabemos que Cornélio é Bispo da Santíssima Igreja Católica, escolhido por Deus todo-poderoso e por Cristo Nosso Senhor.. Confessamos o nosso erro… Todavia nosso coração sempre esteve na Igreja; não ignoramos que há um só Deus e Senhor todo-poderoso, também sabemos que Cristo é o Senhor…; há um só Espírito Santo; por isto deve haver um só Bispo à frente da Igreja Católica"
Na metade do ano 200, São Cipriano, bispo de Cartago afirma que "Estar em comunhão com o Papa é estar em comunhão com a Igreja Católica", escrevendo também sobre a autoridade de Pedro em "Sobre a Unidade da Igreja":
"O Senhor diz a Pedro: "Eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. (…) O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos (…) No entanto, para manifestar a unidade, dispõe por sua autoridade a origem desta mesma unidade partindo de um só. Sem dúvida, os demais apóstolos eram, como Pedro, dotados de igual participação na honra e no poder; mas o princípio parte da unidade para que se demonstre ser única a Igreja de Cristo (…) Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade da Igreja? Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja? Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?".
Os bispos de Roma no cristianismo primitivo ajudaram a espalhar a doutrina cristã e resolver conflitos. Os livros da vida dos santos de Roma afirmam que foram mártires todos os Papas anteriores a Silvestre I (315-335) por causa da perseguição romana que só terminou em 313 com o Édito de Milão.

O título Papa
O título de "Papa" foi, desde o início do século III uma designação honorífica utilizada tanto para o Bispo de Roma, quanto para os outros bispos do Ocidente. No Oriente era usado apenas para o bispo de Alexandria. A partir do século VI, o título era normalmente reservado apenas para o Bispo de Roma, desde então passou à ser utilizado somente por ele, tornando-se um de seus nomes oficiais no século XI.

Primeiro Concílio de Niceia e Grande Cisma do Oriente (325 - 1054)
Após a publicação da Édito de Milão em 313 que permitiu aos cristãos ter liberdade para praticar sua religião, iniciando-se a Paz na Igreja e a realização do Primeiro Concílio de Niceia em 325, o papado foi reconfirmado. Com o estabelecimento da Pentarquia, em que a Igreja foi organizada sob cinco patriarcas, os bispos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Roma, o Bispo de Roma é considerado o "primus" (primeiro) entre os patriarcas, embora muitos interpretem esse título como o "primus inter pares" (primeiro entre iguais). Ao Papa é concedido o direito de convocar concílios ecumênicos. Porém, quando a capital imperial foi transferida para Constantinopla (em 330 d.C), o papado por consequência perdeu influência e especialmente o Bispo de Constantinopla, teve sua autoridade aumentada consideravelmente sobre as igrejas orientais, embora Roma continuasse tendo uma autoridade especial devido à sua ligação com São Pedro.
O Primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C.) confirma as condições do primado romano anteriores, no entanto, o papa não compareceu pessoalmente a este concílio, que se realizou na zona leste da capital do império romano, e não em Roma. Em torno de 400 São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla e doutor da Igreja, dizia que: "No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma". Santo Agostinho, após a condenação do Pelagianismo (heresia que dizia que o homem podia salvar-se sem Deus), no sínodo de 416, com a concordância do Papa Inocêncio I, disse: "Roma locuta, causa finita!" ("Roma falou, encerrada a questão!"). Em 446 o Papa Leão I declarou que "o cuidado da Igreja universal, deve convergir para a cadeira de Pedro, e nada (...) deve ser separado de sua cabeça". Esta doutrina foi reafirmada no Concílio de Calcedónia em 451 por Leão I (através de seus emissários). O primeiro Papa a mudar de nome após eleito, foi o papa Mercúrio, que escolheu o nome de João II (533-535).
Durante o Grande Cisma do Oriente, a separação entre a Igreja Católica do Ocidente e a do Oriente no século XI, que originou a Igreja Ortodoxa por questãos teológicas sob o Espírito Santo, a autoridade papal estava bem definida, porém, a igreja do Oriente, distante de Roma, e sob maior influência do bispo de Constantinopla, então Miguel Cerulário, seria excomungado por um emissário do Papa Leão IX, o bispo de Constantinopla rejeitaria a excomunhão e excomungaria Leão IX, ocorrendo então a divisão (cisma) entre as duas igrejas, a partir daí, embora reconhecessem o papel espiritual do papa, as igrejas orientais não aceitavam sua interferência. Houve várias tentativas de reunificação, principalmente no Concílio de Lyon (1274) e Florença (1439), mas as reuniões mostraram-se efêmeras.

Desenvolvimento na Idade Média

Influência política
Os Papas foram autoridades respeitadas ao longo da história, especialmente na Idade Média, e muitas vezes sua opinião era convocada por líderes temporais, por exemplo, a bula Laudabiliter de 1155 (que autoriza Henrique II de Inglaterra a invadir a Irlanda), a bula Manifestus Probatum que reconhece a independência de Portugal, a bula Inter Caeteras em 1493 (que conduz ao Tratado de Tordesilhas no ano seguinte, dividindo o mundo entre Portugal e Espanha) ou a bula Inter Gravissimas de 1582 (que estabelece o calendário gregoriano, atualmente em uso).
Em 754, o líder dos francos Pepino, o Breve, por ter sido recohecido pelo Papa como legítimo rei dos francos, lutaria contra os lombardos no Reino da Itália, inimigos da Igreja Católica, doando o território conquistado ao Papa Estêvão II, que formaria os Estados Papais, que se tornou o Estado da Igreja, administrado pelo Papa. Porém realmente a maior parte dos Estados Papais era controlado por príncipes menores, somente no século XVI o Papa passou à ter verdadeiro controle sobre todos os seus territórios. Em 1866, com a unificação da Itália, os Estados papais, foram anexados à Itália e Roma foi proclamada a capital do reino. Iniciou-se então a Questão Romana, em que o Papa reivindicava os territórios perdidos; somente com o Tratado de Latrão, em 1929, o Papa obteve a soberania do Estado do Vaticano, que se tornou uma entidade autônoma dentro das fronteiras italianas.
No ano 800, o Papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador, passo decisivo no caminho para o Sacro Império Romano-Germânico, do qual, o Papa foi considerado líder espiritual. Desde essa data tornou-se uma tradição a coroação dos Imperadores pelo Papa, até Carlos V. Napoleão Bonaparte fez reviver essa tradição fazendo-se coroar do mesmo modo. Até 1059 a eleição do Papa era feito pelo clero de Roma (os cardeais), com a aprovação popular. Posteriormente as autoridades temporais, como imperadores, desejavam intervir na igreja, por exemplo, nomeando bispos, motivo pelo qual iniciou-se a Questão das Investiduras (ou nomeações), em que o Papa reivindicava ser seu direito nomear os bispos, então foi iniciada a chamada Reforma Gregoriana, que pretendia combater a corrupção da Igreja e do clero e declarar que o poder temporal não poderia intervir no poder espiritual da Igreja, para evitar qualquer interferência temporal na eleição do papa, foi estabelecido que a eleição do pontífice se realizaria através de votação pelo Colégio dos Cardeais (secreta desde 1274) reunidos num conclave, em 1075 Gregório VII foi proclamado papa dessa maneira. Nesta época foi anunciado o Dictatus Papae, um conjunto de 27 proposições eclesiológicas tratando da autoridade do papado (sendo a base ideológica do período de supremacia da Igreja na Alta Idade Média). A partir do século XII os Papas passaram a ter seus próprios brasões pessoais, além dos simbolismos próprios da Santa Sé. A partir do século XVII foram atribuídas brasões aos papas anteriores que não o possuíam.

O Papado de Avignon e Grande Cisma do Ocidente
Entre 1309 e 1377, a residência do papado foi alterada de Roma para Avignon, na França. O Papa Clemente V, foi levado (sem possibilidade de debate) pelo rei francês para residir em Avignon, no episódio conhecido como "Crise de Avignon". Em 1378 o Papa Gregório XI voltaria para Roma, onde faleceria, a população italiana desejava que o papado fosse restabelecido em Roma e então seria eleito o Papa Urbano VI, de origem italiana, porém Urbano VI se demonstraria muito autoritário, então uma quantidade considerável da alta hierarquia católica, anularia sua votação e um novo conclave foi realizado, elegendo o Clemente VII, que voltaria à residir em Avignon, iniciando-se então o Grande Cisma do Ocidente, em que o Papa residia em Roma e o Antipapa residia em Avignon, reclamando para si o poder sobre a Igreja Católica. Posteriormente em 1409 a fim de tentar terminar com o cisma, se reuniria o Concílio de Pisa, que estabeleceria outro Antipapa residente em Pisa. O cisma terminou no Concílio de Constança em 1414, com o papado estabelecido definitivamente em Roma e os outros antipapados declarados ilegítimos.

Renascimento
Durante o Renascimento ou Renascença os papas mostraram-se favoráveis à nova cultura e às artes, tornando-se mecenas de artistas como Michelangelo, Rafael e Bernini. O Papa Nicolau V (1447-1455) transformou a pequena biblioteca pontifícia em uma grande coleção de manuscritos gregos e latinos, montando galerias e museus no Vaticano. Iniciou a reconstrução da Basílica de São Pedro e da cidade de Roma, bem como aumentou os Estados Papais, seus sucessores continuaram seus projetos, embora com modificações.

O Papado no presente
O Concílio Vaticano I realizado em 1869 e 1870 definiu as competências atuais do papado na Igreja. Por meio de bases bíblicas, este concílio reconheceu que o Papa quando fala "ex-cathedra" (literalmente "da cadeira [de Pedro]") é infalível em assuntos de fé e de moral. Igualmente reconheceu o primado do Papa como um dogma da Igreja.

Catecismo de São Pio X
182. Qual é a missão do papa?
O papa, bispo de Roma e sucessor de São Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja. É o vigário de Cristo, chefe do colégio dos bispos e pastor de toda a Igreja, sobre a qual tem, por divina instituição, poder pleno, supremo, imediato e universal. 881-882 936-937 (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica).

Referencias: Fonte: http://blog.bibliacatolica.com.br
Papa é o título dado ao Bispo e Patriarca de Roma, supremo líder espiritual da Igreja Católica e também chefe do Estado do Vaticano e da Igreja Latina. O Papa, considerado o Sucessor de S. Pedro e vigário de Cristo, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja. Nos primórdios da Igreja, os sucessores de São Pedro denominavam-se apenas Bispos de Roma. Quando referido como cargo eclesiástico, surge como Sumo Pontífice, o maior dignatário.
Papa é também o título dos Patriarcas da Igreja Copta e da Igreja Arménia. O Papa formalmente tem os títulos de Bispo de Roma, Vigário de Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Supremo Pontífice, Primaz de Itália, Arcebispo e Metropolita da Província Romana, Soberano do Estado do Vaticano e Servo dos Servos de Deus, embora no direito canônico seja apenas referido como Pontífice Romano. O Papa Bento XVI renunciou ao título de "Patriarca do Ocidente" da lista dos apelativos papais do anuário pontifício de 2006.
A eleição de um Papa é feita através de votação (secreta desde 1274) dos cardeais com menos de 80 anos e reunidos num conclave. Em teoria, qualquer homem batizado pode ser eleito Papa, embora se escolha sempre um dos Cardeais. O cargo é vitalício e, até agora, apenas o Papa Celestino V resignou quando se retirou para um convento.
O Papa é auxiliado pela Cúria Romana, no governo da Igreja Católica. A presença tradicional do Papa em Roma não obriga a que o Papa resida na cidade. Tal aconteceu quando, entre 1309 e 1378, a residência papal se estabeleceu em Avinhão (Avignon - Sul de França).
O atual Papa, o alemão Joseph Ratzinger, detém o nome de Bento XVI e foi eleito em 19 de abril de 2005.

Papa Gregório VII
A antiguidade do estatuto secular e de condução de assuntos de estado do Papa é demonstrada já na confrontação do Papa Leão I com Átila em 452 e aumentou substancialmente em 754, quando o líder dos francos Pepino, o Breve doou ao Papa um território que formaria a base dos futuros Estados Papais. No ano 800, o Papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador, passo decisivo no caminho para o Sacro Império Romano. Desde essa data tornou-se uma tradição a coroação dos Imperadores pelo Papa, até Carlos V. Napoleão Bonaparte fez reviver essa tradição fazendo-se coroar do mesmo modo.
Conjuntamente com a posição do Papa como regente territorial e príncipe da Cristandade (especialmente proeminente com os Papas da Renascença como Alexandre VI e Júlio II), e como líder espiritual do Sacro Império Romano (mais relevante com Papas como Gregório VII e Alexandre III), o Papa, como Supremo Pontífice, tem autoridade política e temporal. Alguns dos exemplos ao longo da história são a bula Laudabiliter em 1155 (que autoriza Henrique II de Inglaterra a invadir a Irlanda), a bula Manifestus Probatum que reconhece a independência de Portugal, a bula Inter Caeteras em 1493 (que conduz ao Tratado de Tordesilhas no ano seguinte, dividindo o mundo entre Portugal e Espanha) ou a bula Inter Gravissimas de 1582 (que estabelece o calendário gregoriano, atualmente em uso).
Nos dias de hoje, o papel político do Papa traduz-se no exercício de um cargo cerimonial, religioso e diplomático de grande importância.
Até 1870 a autoridade temporal do Papa exercia-se sobre um território no centro da Itália, denominado Estados Papais ou Estados Pontifícios, muito mais vasto do que o pequeno estado do Vaticano de hoje.

Papel religioso
O Papa dispõe, para os católicos, de autoridade religiosa em matéria de fé. É igualmente quem aprova e preside às cerimónias de beatificação ou canonização, e à nomeação de Cardeais. O Concílio do Vaticano I de 1869-1870 definiu o dogma da "Infalibilidade Papal", pelo qual pronunciamentos solenes ("ex-catedra") do Papa a respeito da fé e da moral não apresentam possibilidade de erro. Desde que foi estabelecida, a infalibilidade papal só foi usada uma vez, pelo Papa Pio XII, nos anos 50.

Listas de Papas
Entre os sucessores de São Pedro foram eleitos:
212 italianos
17 franceses
11 gregos
6 sírios
6 alemães
3 espanhóis
3 norte-africanos
2 da antiga Dalmácia
1 português
1 inglês
1 holandês
1 cretense
1 polaco.

São Pedro - O primeiro papa
São Pedro teria recebido de Jesus a missão de construir a sua Igreja. E, daí, surgiram não só a tradição católica como ferrenhas disputas religiosas. Saiba mais sobre o precursor de Bento XVI.
No dia em que João Paulo II morreu, foi retirado de sua mão esquerda um dos símbolos mais tradicionais do poder papal: o Anel do Pescador. Trata-se de uma peça forjada em ouro puro, que traz inscrito em alto-relevo o nome do papa - além da gravura de um homem lançando redes de pesca. Um anel idêntico (com o mesmo desenho, mas outro nome) foi entregue para Joseph Ratzinger durante a cerimônia da consagração - junto, é claro, com o poder supremo sobre a Igreja Católica.
A insígnia no anel faz referência ao primeiro homem que, segundo a tradição, teve esse poder - um humilde pescador que iniciou sua vida no litoral da Galiléia. O mais antigo precursor de Bento XVI foi um judeu, nascido na região que hoje forma o Estado de Israel, e se chamava Simão Ben Jonas - mas tornou-se famoso com o nome que, segundo o relato dos Evangelhos, foi-lhe dado por Jesus Cristo em pessoa: Pedro, a "Rocha".
Na verdade, o anel é mais do que apenas uma homenagem. É sobre a figura de Pedro que reside, em última análise, o poder do Vaticano e o do papa. Não fosse ele, o bispo de Roma poderia ser apenas mais um dentre vários líderes católicos. A origem e a justificativa do papado dependem desse pescador da Galiléia. E, para entender o porquê, é preciso conhecer a história dele.

Pedro, o líder da Igreja Católica?
Simão entrou para a história do cristianismo - e do mundo - por volta do ano 28 ou 29. Na época, ele vivia na cidade de Cafarnaum, na costa noroeste da Galiléia. Certo dia, enquanto apanhava peixes, a vida simples e pacata de Simão mudou para sempre. De acordo com o Evangelho de Marcos, um desconhecido aproximou-se pelas margens e o convidou a se tornar seu discípulo. Pedro aceitou a proposta, deixou de lado seu barco e suas redes e seguiu aquele pregador misterioso, que vinha da cidade de Nazaré e dizia ser o Messias enviado por Deus. Seu nome era Jesus.
Foi ao longo das andanças pela Galiléia que Jesus pregou sua doutrina e, de acordo com os Evangelhos, realizou grande parte de seus milagres. E o pescador Simão o acompanhou o tempo inteiro. Dentre os doze principais discípulos, ele era certamente o favorito: Pedro é o apóstolo mais citado nos Evangelhos e aparece ao lado de Cristo em vários momentos cruciais de sua pregação. Também é o mais dedicado, ardoroso e o primeiro a reconhecer Jesus como o "Filho de Deus".
Sua proeminência fica bem clara em uma passagem que, nos séculos seguintes, daria muito o que falar a historiadores e teólogos. De acordo com as Escrituras, Jesus conferiu a Simão um novo nome, Kepa - palavra hebraica que significa "rocha" ou "pedra". No futuro, o termo seria traduzido para o grego petros e para o latim petrus, até chegar ao português "Pedro". Para muitos, esse apelido é uma investidura de poder. A narrativa mais completa do fato encontra-se no capítulo 16 do Evangelho de Mateus. Quando passavam pela região conhecida como "Cesaréia de Felipe", Jesus disse a Simão, diante de todos os apóstolos: "Tu és Kepa (ou Pedro) e sobre essa pedra edificarei minha igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino do céu, e o que ligares na Terra será ligado nos céus". Para muitos teólogos, esse trecho é a prova de que Pedro foi escolhido como o maior representante de Cristo sobre a Terra. Ele não seria apenas o líder do cristianismo, mas o porta-voz da vontade divina. Em Um Judeu Marginal, o historiador americano John Meier resume a opinião católica sobre o assunto: "As decisões de Pedro, autorizadas aqui na Terra, são ratificadas no reino do céu. Pedro fica no lugar de Jesus. A autoridade que ele recebe diretamente de Cristo se estende a toda a Igreja, sem restrição".
Ou seja: Pedro teria sido apontado como primeiro e supremo chefe do cristianismo - e suas decisões deveriam ser consideradas infalíveis, já que têm o aval de Cristo. De acordo com a doutrina católica, as prerrogativas de Kepa foram herdadas por seus sucessores, os bispos de Roma - ou seja, os papas. Mas para entender por que o Vaticano se considera o herdeiro legítimo de Pedro, é preciso dar uma olhada no que ele andou fazendo em suas últimas décadas de vida.

Pedro, o primeiro bispo de Roma?
Logo após a crucificação de Cristo, no ano 30, o pescador da Galiléia passou a chefiar a Igreja recém-nascida. Além de organizar os fiéis em Jerusalém - o primeiro centro da nova religião, Pedro pregou em cidades distantes como Corinto (na Grécia) e Antióquia (na atual Turquia).
Sua importância como líder do cristianismo primitivo foi gigantesca. Entretanto, pouco se sabe sobre a vida de Pedro - em especial, sobre suas andanças finais. A maior parte das informações a seu respeito vem dos evangelhos, dos Atos dos Apóstolos e das epístolas (ou cartas) escritas pelos primeiros discípulos de Cristo. Outras pistas podem ser encontradas em textos de alguns historiadores antigos, que escreveram nos primórdios do cristianismo, ou pelas lendas que se formaram ao seu redor. E só. Uma antiquíssima tradição católica garante que o apóstolo viajou para Roma, em meados do século 1, fundando a primeira comunidade cristã da cidade. Essa hipótese é fortemente sustentada por historiadores como Eusébio de Cesaréia - que, embora tenha vivido cerca de dois séculos depois de Pedro, fundamentou sua obra na opinião de autores mais antigos.
Verdade ou não, o fato é que, já no século 2, Pedro era tido pelos líderes católicos como o primeiro bispo de Roma. E mais: de acordo com a Ata dos Mártires - documento composto pelos primeiros cristãos, foi no território da moderna capital italiana que o maior dos apóstolos encontrou a morte, provavelmente na época do imperador Nero. Segundo Orígenes, um erudito do século 3, Pedro foi preso pelos romanos e condenado à crucificação. Julgando-se indigno de morrer da mesma maneira que Jesus, ele pediu que o crucificassem de cabeça para baixo - e seu desejo foi atendido.
Durante o século 20, investigações arqueológicas feitas a pedido do papa Pio XII descobriram um grande cemitério cristão nos subsolos do Vaticano, sob a atual Basílica de São Pedro. Os arqueólogos concordaram que a necrópole datava do século 1 - e que provavelmente um grande mártir ali fora enterrado. Ninguém sabe quem, mas muita gente jura de pés juntos que era ninguém menos que Simão da Galiléia.
A presença e o martírio de Pedro na cidade foram usados para comprovar o "primado de Roma" - a idéia de que o Vaticano e seu bispo herdaram a liderança cristã, em linhagem direta, do escolhido de Jesus Cristo. Mas não faltou quem questionasse tanto sua posição como "porta-voz" de Cristo, quanto o direito dos bispos romanos de se declararem seus herdeiros.

Papas, herdeiros de Pedro?
A relação entre Jesus e seu discípulo favorito nem sempre foi um mar de rosas. Embora tenha sido escolhido para "guiar o rebanho" de Cristo, Pedro também recebeu críticas violentas do mestre. O Evangelho de Marcos conta que, quando Jesus anunciou que sua missão divina era ser preso, torturado e crucificado, Pedro "tomou-o à parte e começou a repreendê-lo". Jesus então disse: "Afasta-te de mim, Satanás, pois teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens". Há também o famoso episódio da noite em que Jesus foi preso. Conta a Bíblia que Cristo havia reunido seus apóstolos para uma ceia, a última que fariam juntos. Voltando-se para Pedro, disse: "Ainda hoje, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes". E Pedro: "Mesmo que seja preciso morrer contigo, jamais te negarei!" Horas depois, Jesus foi preso e levado à casa do sumo-sacerdote Caifás, onde se reunia o conselho religioso judaico - que acusava Jesus de blasfêmia por se declarar o Filho de Deus. Pedro seguiu o mestre e se misturou à criadagem da casa, para espiar o interrogatório. Alguns servos o reconheceram como um dos seguidores do "nazareno" e Pedro, com medo de ser preso, repetiu três vezes que não conhecia Jesus. Nesse momento, o galo cantou - e, de acordo com o Evangelho de João, Jesus o olhou diretamente. Percebendo o que fizera, o apóstolo foi para a rua "e chorou amargamente".
Mais tarde, a liderança de Pedro seria criticada por seus próprios aliados. A polêmica mais contundente foi levantada por Paulo de Tarso - outro discípulo ardoroso, responsável por grande parte da disseminação do evangelho em terras "pagãs". Em sua Epístola aos Gálatas, Paulo acusa Pedro de certa relutância em entregar-se à conversão dos gentios - ou seja, os povos não-judeus. Para Paulo, certos costumes judaicos, como a circuncisão e as restrições alimentares, não deviam ser impostas aos estrangeiros interessados em abraçar o cristianismo.
Esses episódios da vida de Pedro inspiraram nada menos do que os grandes cismas do catolicismo. Com base neles, no século 2, seguidores do gnosticismo - vertente cristã que não aceitava a hierarquia católica - empreenderam uma verdadeira campanha de difamação contra Pedro. E, em 1050, a polêmica se tornou tão grande que acabou rachando para sempre a cristandade: os líderes religiosos de Constantinopla (atual Istambul, Turquia) repudiaram a autoridade do Vaticano e formaram a Igreja Ortodoxa. No século 16, o monge alemão Martinho Lutero repetiu o gesto, dando origem ao protestantismo. Esses movimentos negavam, antes de mais nada, a autoridade suprema do papado sobre o cristianismo. Para questioná-lo, alguns foram direto à raiz e atacaram a noção de que Pedro fosse o escolhido para guiar os cristãos. Em várias épocas, ortodoxos e protestantes usaram argumentos idênticos: por causa de seus deslizes e contradições, Pedro não poderia ser considerado o porta-voz de Deus. Não duvidavam de sua importância histórica, apenas não atribuíam a ele a infalibilidade divina nem a autoridade absoluta sobre os cristãos. Outros aceitavam a posição de Pedro como embaixador de Jesus na Terra, mas negavam que esse poder tivesse sido transmitido para os bispos romanos. Sua autoridade, instituída por Cristo, teria acabado lá no século 1, quando o apóstolo foi crucificado de cabeça para baixo.
A divisão da cristandade entre aqueles que aceitam a autoridade papal e aqueles que a renegam permanece até hoje. Mas apesar de ter deixado uma herança ambígua e muitas vezes contestada, o papel histórico de Pedro é inquestionável. Para qualquer cristão, esse patriarca ardoroso e contraditório foi, de fato, o sustentáculo da Igreja em sua fase primitiva - o primeiro líder de uma revolução espiritual que, nos milênios seguintes, mudaria os rumos do mundo.